terça-feira, 21 de outubro de 2014

sábado, 11 de outubro de 2014

SOBRE A VIDA QUE SE TEM OU TEVE E O VOTO QUE SE DÁ

Por Professora Joana Viera

"Cansei de discutir sobre Aécio e Dilma. Eu tinha vinte anos quando vivi o governo FHC e estudava para o cursinho quando a universidade era quase inacessível e não havia nenhum projeto social. Eu morava sozinha quando a Celpa ainda era do Pará e foi privatizada pelo PSDB. A conta era baixa e eles convenceram o povo que seria melhor. Eu fui aluna da escola pública sem merenda, dos anos estudando no fundamental com professores sem diplomas porque não existia o PAFOR. Nasci e me criei na década de 80 ouvindo o meu pai reclamar de inflação - a gente ia ao supermercado e os valores subiam sem prévias. Eu sou irmã de onze filhos dos quais, hoje, seis são concursados depois que o governo do PT assumiu o poder e fez festas lançando editais e vagas. Eu passei dois anos sem passar no vestibular porque não havia o PROUNI. Passei na Federal quando o Lula começou o processo de interiorização das universidades. Cursei Letras na cidade de Capitão Poço numa turma de 52 alunos de classe baixa e sem condições de concorrerem e viverem em Belém. Antes as vagas eram só para os alunos da capital. Não tive a chance de fazer um curso profissionalizante porque não existia o PRONATEC. Meu irmão fez medicina na UFPa quando aquele curso era elitizado. Ele estudou muito - muito mesmo - porque pobre não tinha chance de ser médico. Hoje tem Cesupa, Santarém, Altamira e além da ajuda de custo, o governo oferece a mensalidade e o FIES. Eu sou do tempo em que não podíamos sonhar em fazer mestrado; de um tempo em que não podíamos desejar estudar no exterior nem em outras universidades do Brasil como Ufrj ou Usp. Não havia Ciências sem Fronteiras, não havia esse festival de bolsas de incentivo. EU SOU DE UM TEMPO EM QUE POBRE NÃO PODIA SONHAR. É por isso que deixei de ser PT, pelos escândalos envolvendo desvios e corrupção, mas continuo acreditando que Dilma fez mais por gente como eu, que nasceu em uma família de 12 irmãos cujos pais são um vendedor de suco e uma doméstica e que tiveram chances de chegar lá. 

Hoje, eu pago mais impostos, a conta da luz está mais cara, apesar de o governo naquela época quando quis vender a empresa nos convenceu que isso não aconteceria. Não entendo tanto de economia, mas sei que essa coisa de neoliberalismo foi uma das ideias implantadas no governo deles, os tucanos. Engravidei cedo, mas tive acompanhamento médico no governo petista, meu parto foi pago pelo SUS, minha filha foi pra UTi e ficou 15 dias lá pelo Sistema Único de Saúde e hoje que ela tem 15 anos, quer fazer Direito fora do Pará e se especializar fora do Brasil...não sou tão pobre, mas o governo Dilma permite que gente como nós, de histórias mais simples, possam fazer o que muita gente um dia não pôde: sonhar. 

O melhor de Dilma e Lula não foi o Mensalão, foi a certeza de que nascemos pobres mas temos vez. Estudamos na escola pública e temos chances...

Sou Dilma e essa é a última vez que tento convencer alguém de que o governo dela, apesar das falhas, ainda é a melhor -ou a menos pior - opção. O voto é seu, mas o destino é nosso. Nosso e de mais de 60 milhões de brasileiros pobres que ganharam as bolsas e as novas chances.

Eu mudei de vida, não preciso de nenhum programa de assistência social, mas nasci em uma cidade onde 80% dos meus amigos e seus filhos precisam ter planos e chances. Além disso, trabalho em uma escola onde 100% dos alunos só precisam de uma coisa: OPORTUNIDADE!

VOTO 13! Dilma! 
E não foram os jornais que me convenceram, foi a vida. E se você também nasceu pobre: pense bem."

Texto capturado dehttp://plantaobrasil.com.br/news.asp?nID=82233&p=3 



quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Droga de político!

Por Bruno Lorenzatto
Em um vídeo de menos de 2 minutos, publicado recentemente no youtube – O desabafo da cocaína –, o videomaker Rafucko consegue dar visibilidade a preconceitos e problemas estruturais que atravessam a sociedade brasileira: o sistema político, a imagem das drogas e a questão das classes sociais.
Rafucko assim apresenta seu vídeo: “Aécio Neves tentou bloquear na justiça todos os links que relacionavam ele à droga. Mas você já se perguntou o que a própria cocaína pensa sobre isso? Ela criou um vlog pra desabafar”. O videomaker ainda acrescenta uma nota, na qual afirma que seu vídeo foi inspirado no tweet do cartunista André Dhamer: “Acho que ligar cocaína ao Aécio Neves faz mal para a imagem da cocaína.”
O que ela (a droga) tem a dizer sobre o pré-candidato à presidência da República? Está cansada de ver seu nome associado ao político do PSDB – “o partido mais sujo do Brasil”, como afirma.
Inversão insólita, cômica, mas também altamente crítica, da abordagem, largamente difundida, de difamação do senador pelo uso da droga.
O que Dhamer e Rafucko estão questionando?
Numa sociedade como a nossa, o que deveria ter imagem pior do que a da cocaína, é a política, tal como é praticada – ou melhor, não praticada, pois o que vemos no Brasil é o domínio dos interesses privados sobre as esferas públicas.
Não é preciso fazer menção ao uso da droga para expor o tucano ao ridículo. Seu trato com a coisa pública é mais do que suficiente para isso – o que deveria ser o foco da crítica ao senador do PSDB. Como indica Rafucko, a imprensa mineira foi censurada diversas vezes, ao se posicionar contra o ex-governador de Minas Gerais (ver em: https://www.youtube.com/watch?v=HXT4eOf-2w8 e http://www.viomundo.com.br/denuncias/sindifisco.html).
A forma segundo a qual a cocaína geralmente é mencionada nesse contexto, é um sintoma de como a perspectiva dominante e conservadora entende a questão das drogas no Brasil – de uma maneira hipócrita.
O problema do país não é o uso de quaisquer drogas ilícitas, mas, sim, a hipocrisia que coloca, nesse caso, em primeiro plano, o uso dos psicotrópicos (como se a burguesia não fizesse uso generalizado de drogas legais e ilegais) como algo inaceitável, negligenciando o fracasso da estrutura política, (o fracasso da política anti-drogas, inclusive), muito bem representada por políticos como Aécio Neves.
E neste ponto – o da configuração politica da democracia representativa, tal como a vivenciamos hoje –, seria preciso ir muito além do caso específico do senador mineiro. Deveríamos considerar que é o próprio funcionamento do sistema político (assim como em outros países) que dá claros sinais de crise. Esgotamento de um modelo, segundo o qual as decisões do Estado se encontram submetidas às exigências do mercado capitalista.
As manifestações que irromperam em junho do ano passado demonstram a demanda por uma democracia efetiva – um milhão de pessoas protestando nas ruas não é um fato que se pode ignorar. Na verdade, esse fato singular aponta para uma reordenação dos lugares, das formas do proceder e dos sujeitos políticos. O professor de filosofia da USP Vladimir Safatle (e pré-candidato do PSOL a governador do Estado de São Paulo) tem interpretado a atual conjuntura nesse sentido: “talvez seja o caso de nos perguntarmos pelo modo como agem os novos atores da política. Quem são eles? Talvez eles não estejam nas instituições tradicionais de representação política, nem mesmo eles se sentem representados por aqueles que ocupam esses lugares.” (ver mais em: http://www.cpflcultura.com.br/wp/2012/10/26/vladimir-safatle-quando-novos-sujeitos-politicos-sobem-a-cena/)
No ano passado, a exemplar insatisfação da sociedade em relação à posse do militar Jair Bolsonaro para a presidência da Comissão de Direitos Humanos, expressa na síntese (amplamente compartilhada nas redes sociais): “Bolsonaro não me (nos) representa”, implica sintomaticamente um deslocamento mais radical – como se dissesse: “esta democracia, tal como a experienciamos, não nos representa”. Safatle defende a implementação de mecanismos de democracia direta na estrutura política, os quais possibilitariam uma participação real dos cidadãos nas deliberações públicas (ver mais em: http://www.cartacapital.com.br/politica/as-neodemocracias).
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A autoridade médica que viabiliza a distribuição, a circulação e o uso em ampla escala de medicamentos é o limite moral e político que separa a “boa” droga da “má” droga, isto é, o limite entre as drogas legalizadas e as criminalizadas. “Sem essa de só uso ‘rivotrilzinho’ para acalmar, porque rivotril também é droga!”, afirma enfaticamente a cocaína no vídeo de Rafucko.
Certas classes sociais que consomem anti-depressivos, calmantes etc, sem dúvida em um nível de dependência química, são as mesmas que apoiam acriticamente a criminalização de drogas como a maconha ou a cocaína. Não se trata aqui de defender uma droga e condenar outra, e sim de problematizar como as convicções dos sujeitos são guiadas por determinações ideológicas que escondem os problemas efetivos que nos constituem. Afinal, não é a primeira vez que uma questão como essa, que deveria ser pensada politicamente – em termos de saúde pública –, é tratada simplesmente com repressão policial e discursos morais vazios.
Raramente se questiona no debate público a contradição evidente no fato de: quem consome drogas ilícitas (todas as classes sociais) e quem vai preso, reprimido e morto (os pobres). A estatística prova que não são pessoas como Aécio Neves que são encarceradas e reprimidas – mesmo quando um helicóptero é interceptado com quase meia tonelada de cocaína. Logo, questão de classe, vê-se claramente – Rafucko, como sempre, diz o que a elite não quer escutar: “Caveirão só mata na favela, você não vê caveirão invadindo mansão nos Jardins, mansão em São Conrado. Aí vocês vêm com aquele papinho de que bandido bom é bandido morto, mentira. Bandido pobre é bandido morto, bandido bom é bandido rico, engravatado, é bandido que fica no Senado (…) e bandido bom não vai preso não, não morre não”.

*Bruno Lorenzatto
, licenciado em história e mestre em filosofia pela PUC-Rio
fonte do texto: http://outraspalavras.net/blog/2014/04/28/melhor-seria-se-aecio-cheirasse-cocaina/

quinta-feira, 2 de outubro de 2014