quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Lá vem 2010

Já ouço fogos de artifício em Valinhos. Ainda é cedo, mas já ouço...Em algumas horas muitas pessoas estarão disfarçadas de pai/mãe de santo pelas ruas e casas. Haverá aquele momento teatral de trocas de frases feitas e blá, blá, blá. O de sempre. Pessoas se abraçando, bebendo, rezando, orando, pulando ondas, subindo montanhas, esperando, enfim. Com fé, sem fé. Vem que vem um novo ciclo (aos sobreviventes).

O que desejo a todos que amo? (Isso me inclui, obviamente) Hm...Acho que desejo força, energia pra continuar até o próximo fim. (Esse é o meu lado mais autêntico se expressando). Mas também desejo (como sempre e como todos), que a gente viva melhor, que a gente seja mais completo, mais alegre, que a gente ganhe na loto (mesmo sem jogar rs) e tudo de bom, claro! Por quê não?

Beijos a todos amigos e queridos. Que a gente aproveite bem nossas oportunidades de estarmos juntos.




sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Época de Natal


Entre tantas luzes e jingles de Natal

No meio dessa festividade forçada e sem sentido

Nessa época de recesso escolar e troca de presentes

Nesse tempo de congratulações e espíritos mais desejantes

Nesses dias de esperanças que se repetem sempre e morrem logo adiante

Eu fico assim...

Deprimo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ampliando o vocabulário


Meu filho tem 6 anos. Ele estuda numa escola muito boa e bem pequena. Em sua sala, por exemplo, tem 5 crianças. Acho isso ótimo, pois facilita muito a interação entre professor, demais funcionários e alunos. Desse jeito é possível manter um abiente mais familiar que comercial. E acredito que ambiente saudável é um dos ítens que as crianças pequenas mais precisam.
Vez por outra o Vic traz novas questões para casa. Questões de vida , de morte, de relacionamentos etc... Nessas e noutras ele tem ampliado o seu vocabulário. Abaixo divido um diálogo que a convivência escolar nos proporcionou no dia de hoje:

Vic- Ah, Mamãe! Hoje eu precisei me esconder de uma amiguinha...
Fr- É, filho? O que aconteceu?
Vic- A amiguinha tava querendo me beijar de todo jeito e eu não sabia mais o que fazer pra escapar, daí pedi ajuda pra irmã dela.
Fr- Hm...E o que a irmãzinha dela disse?
Vic- Falou que só se eu me escondesse mesmo...
Fr- Coitadinha, Vic!!! Ela só tem 4 aninhos! Acho que ela gostaria de ter um irmão mais velho...
Vic- Por acaso quando vc era pequenininha ficava pegando os meninos na escola?!
Fr- Não...Mas, a mamãe era tímida, né?
Vic- O que que é tímida?
Fr- Uma pessoa que tem vergonha...
Vic- Ah, então é isso! Eu sou tímido!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Dividindo e comparando fatos

Neste blog, você pode encontrar uma pequena série de posts de maio de 2008, nos quais retratei imagens do Japão, diferentes das que, comumente, encontramos no imaginário brasilero. Para vê-las, basta clicar nos títulos abaixo:

Aqui também tem

Idoso trabalhador

Miséria

Suicídio

Homicídio

Hoje recebi de um amigo o link: http://raulnachina.folha.blog.uol.com.br/arch2009-08-30_2009-09-05.html#2009_09-01_08_09_08-130436097-0

Ral Juste Lores, também traz para o lado de cá do mundo uma outra imagem e notícia (da pobreza) do Japão.

Sim, continuamos mal aqui no Brasil, mas o Japão já esteve melhor...






terça-feira, 9 de junho de 2009

Sobre viver num mundo de vencedores e perfeitinhos

O poema abaixo voltou para mim em hora apropriada... Compartilho desse sentimento absurdo (que, aliás, agora me faz pensar no"sentido do absurdo", segundo Camus) que o poeta nos traz à tona...


Poema em Linha Reta
Álvaro de Campos


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



domingo, 12 de abril de 2009

Medo


Logo que chegamos ao Brasil, o Vic, apontando com o dedinho, perguntou-me:

-"Mamãe, por que é que aqui no Brasil tem muito desse aqui ó..."

-O nome disto é grade ou também portão. Aqui no Brasil as pessoas colocam grades nas casas porque elas tem medo de ladrão.

-"Nossa! Então aqui no Brasil existe bandido de verdade?!"

Poucos meses depois ele presenciou uma tentativa de assalto aqui em casa, como já mencionei num post anterior.

Mês passado ele soube que levaram o carro do "titio Fábio" lá em São Paulo.

Semana passada, ele soube que o carro do titio Fábio- que já havia sido encontrado- foi roubado ( outra vez!) em Valinhos.

Ontem à noite, um casal de amigos e seus dois filhos vieram nos ver. Enquanto o Alex abria o portão de casa para eles, uma dupla veio assaltá- los a mão armada. Isso aconteceu com a mesma naturalidade com que algumas pessoas, no mesmo instante, bebiam no barzinho da nossa esquina.

O pequeno Vic, desde aquele dia, quando soube o nome e a função das grades, verbaliza sua própria conclusão:

-"No Japão tem perigo de taifu* e de jishin**. No Brasil tem perigo de ladrão."

* tufão

** terremoto

OBS: Retirei a imagem acima da Internet via google :)




sexta-feira, 3 de abril de 2009

Honestidade


"Tenho visto pessoas bem moralistas agindo errado e todos os dias comprovo que a honestidade não precisa de regras."
Albert Camus


sexta-feira, 6 de março de 2009

De volta à Campinas

Pois é...Estamos vivendo há um mês em Campinas. Vic e eu. Na próxima segunda feira, dia nove de março, Alex também estará de volta ao Brasil. Chegará exatamente no dia de seu trigésimo quarto ano de vida! (EEEEEEE!). Véspera de nosso oitavo aniversário de casamento, dia 10 de março (EEEEEEE! de novo). Vamos retomar (ou refazer) nossa vida no Brasil, que aliás tem sido um recomeço desde sempre.

Casamo-nos em 10 de março de 2001. Naquela época, montamos nossa primeira casinha, achando que moraríamos por um bom tempo nela. Meu pai morreu no mês de junho e fomos para Alemanha em agosto do mesmo ano. Na Deutschland, em apenas UM ano, trocamos de moradia pelo menos QUATRO vezes (na mesma cidade!). Fomos dois e voltamos três, pois o "Pitchu" foi gerado por lá. Gerado na primavera européia, nascido no verão brasilero, em janeiro de 2003. Antes, porém, do nascimento dele, ficamos hospedados (ou agregados?) na casa do meu irmão, por quase três meses, até que encontramos um "apertamento" pra gente morar. Aquietamo-nos, por fim, na Av. Sta Izabel, em Barão Geraldo (Campinas), até início de maio de 2006, quando decidimos ir para o Japão. Lá fomos nós: papai, mamãe e filhinho para o Nihon, em 2006, onde experimentamos novas aventuras.Vic e eu moramos lá durante dois anos e meio. Alex que ainda não chegou, já completou seus 3 anos de vivência no Japão.

Agora estamos de volta à boa, velha e cara Barão Geraldo, na cidade de Campinas.

Estou contente, por sentir-me "em casa", de certa forma. Gosto de Barão, por suas árvores, rostos e jeitos típicos. A Unicamp com seus ipês amarelos, a praça do coco que está agora mais bonita, além de outros lugares, fatos e sentimentos, fazem-me sentir bem neste lugar.

Claro, nem tudo são flores... Por exemplo, já levamos um susto na casinha aqui, onde estamos morando. Fomos visitados por um ladrão de bicicleta, em pleno horário de almoço, na segunda semana como moradores do bairro. A invasão causou-nos um grande susto. O intruso foi surpreendido também com a atitude dos moradores da rua que, praticamente, levaram o cidadão à polícia...Mas essa história eu conto outro dia, ou não...O que mais importa neste momento, pra mim, é aproveitar a chegada do Alex, fazermos nosso rearranjo, ver ôs ipês e passar por debaixo das sombras das árvores baronenses. Quero viver, enfim, o que de bom for posível aqui em Barão, com meus amores.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O VELHO DA PRAÇA

Ontem deitei-me para dormir, mas a dor em meu estômago não queria dar-me trégua. Então, assim, acordada, veio-me a lembrança de um velhinho que sempre encontrávamos, Vic e eu, na praça em frente de casa, lá no Japão.

Naquela praça, onde as tardes de meia estação passavam sem qualquer urgência, depois das aulas do Vic, notava sempre aquele ancião andando ao redor das árvores. Ele olhava para o topo delas, como quem confere algo, e falava sozinho, ou com elas - nunca soube. Parecia um ritual diário. Depois de rodear as mesmas árvores de sempre, vinha ele até onde quer que eu estivesse e instalava-se ao meu redor. Era complicado...Na absurda maioria das vezes, eu não compreendia aquele senhorzinho de idade avançada, mas ele não tinha pressa para explicar-me. Era persistente em "conversar" comigo, apesar de minha notável limitação. ( Considerando que ele falava sozinho ou, talvez, com árvores, tentar comunicar-se com esta gaijin* não deveria mesmo ser tão ruim.)

Depois de nossa primeira "conversa", quando o vovô soube quem éramos (que vinhamos do Brasil como dekasseguis e que o Vic estudava em escola japonesa), o oditchan** falava-me sobre o tempo, as árvores, os insetos que viviam ali na praça, as promoções do dia nos supermercados do bairro... Algumas vezes, ele também interagia com as crianças, soltava brinquedos presos aos galhos das árvores, pegava cigarras nas mãos para mostrar aos meninos e conversava com eles sobre insetos. O vovô morava ali perto, do outro lado da praça. Numa daquelas casas velhas de lata, pintadas de vermelho (ou cor de vinho?) é que ele vivia.

Aquele oditchan, tinha aparência de gente pobre e sofrida, apesar de seu sorriso constante. Andava sempre em passinhos curtos e rápidos. Usava chinelos de dedo e calças com aspecto encardido. Tinha os dentes estragados. Poucos, aliás.

Outro dia, encontramo-nos, ao acaso, no shopping do bairro. Era verão e já não frequentávamos mais a praça, pois o calor era escaldante...Eu tinha acabado de comprar um sorvete para o Vic e o velhinho, atento, perguntou-me se eu também gostava de sorvete. Disse que sim, sorrindo nervosa, com medo que ele forçasse mais uma daquelas tentativas sofríveis de conversa ... Para o meu alívio, o vovô não estendeu-se no assunto. Partiu. E voltou! Enquanto Vic e eu estávamos sentados num banco, o velho (amigo?) surpreendeu-me com um sorvete de presente. Fiquei muito constrangida, embora grata. Depois disso, num outro dia de verão, encontramos-nos num mercado. Eu já estava de saída quando o velhinho sorridente veio atrás de mim com três sorvetes dizendo: "Um para o pai, um para a mãe e um para o menino..." Cheguei em casa com os sorvetes e contei para os dois que era presente do "oditchan da praça"... Dias depois viemos para o Brasil, supostamente de férias.

Ontem, antes de dormir, lembrei-me dessas coisas e fiquei pensando: o que será que o vovô da praça anda fazendo?


* estrangeira
** vovô

domingo, 25 de janeiro de 2009

Surpresas, crise e recomeço

Que a crise econômica mundial afetou a vida de muitos dekassegis, todos já sabem.
O que alguns não sabem é que Victor e eu já estávamos no Brasil antes da "bomba" ser anunciada pela mídia. E que, na verdade, esta nossa estada prolongada por aqui foi uma coincidência...
Viemos para visitar a vovó (em Sorocaba) em Julho. Deveríamos ter regressado ao Japão em Setembro, mas fomos impedidos pela polícia federal. Por ignorância nossa, viajei com o Victor do oriente para o ocidente sem a autorização (resgistrada) paterna. E tudo correu bem- na vinda. Muitos policiais, algumas entrevistas, muitas revistas- nos EUA (claro!), mas nenhum pedido de autorização. Cheguei ao Brasil com o Vic e os policiais sorriram pra gente.
Na tenativa de voltar, porém, tivemos a grande surpresa! No aeroporto, durante o checking , um funcionário, da mesma companhia aérea que nos trouxe, pediu-me a autorização judicial para que eu saísse do país com meu filho. Minha ignorãncia e despreparo eram tais que achei que fosse uma brincadeira. Só percebi a seriedade ao ver o semblante do funcionário...
Resumo dessa nossa ópera: não ingressamos. A agência de viagens vendeu-nos passagens com preços promocinais e com restrições, como por ex, estávamos impossibilitados de trocar data de vôo sob quaisquer circunstãncias...
Primeiro ficamos muito frustrados. Depois de dias, começamos a pensar se valeria mesmo a pena investirmos uma quantia elevada para regressarmos ao Japão, ou se o Alex é que deveria voltar pra cá...Estávamos colocando na ponta do lápis (e nos corações)uma série de fatores.
Enquanto pensávamos em nossas vidas, começaram as demissões em massa onde Alex trabalhava, como em todo o Japão.
Finalmente chegou o dia em que Alex foi demitido também, porém imediatamente relocado em outra fábrica, o que rendeu-lhe dois meses de salário e esperança. Depois disso foi demitido outra vez, em meio a outra leva de funcionários.
Agora, Alex aguarda receber o seu seguro desemprego antes de voltar, como tantos outros dekasséguis.
As agências públicas de emprego no Japão,chamadas "Hello Work",estão abarrotadas de desempregados. Dura verdade: nihonjin e gaijin estão sendo engolidos pelo furacão do desemprego.
Resumo dessa (outra) nossa ópera: Alex já está de malas prontas e vamos ter que (mais uma vez) recomeçar.
Na próxima semana, se não houver mais imprevistos (afinal, nossa vida é uma aventura..) devemos estar em Campinas, em um novo endereço. As aulas do Vic começam em 02 de fev e encontramos uma escola muito bacana para ele! :)
Breve mais notícias. (Espero que boas!)


PS:

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

É...

José

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?


Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?


E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora?


Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?


Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!


Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, pra onde?


(Carlos Drummond de Andrade)


PS: Na foto, o Vic em maio de 2006. Logo que chegamos ao Nihon...