domingo, 25 de janeiro de 2009

Surpresas, crise e recomeço

Que a crise econômica mundial afetou a vida de muitos dekassegis, todos já sabem.
O que alguns não sabem é que Victor e eu já estávamos no Brasil antes da "bomba" ser anunciada pela mídia. E que, na verdade, esta nossa estada prolongada por aqui foi uma coincidência...
Viemos para visitar a vovó (em Sorocaba) em Julho. Deveríamos ter regressado ao Japão em Setembro, mas fomos impedidos pela polícia federal. Por ignorância nossa, viajei com o Victor do oriente para o ocidente sem a autorização (resgistrada) paterna. E tudo correu bem- na vinda. Muitos policiais, algumas entrevistas, muitas revistas- nos EUA (claro!), mas nenhum pedido de autorização. Cheguei ao Brasil com o Vic e os policiais sorriram pra gente.
Na tenativa de voltar, porém, tivemos a grande surpresa! No aeroporto, durante o checking , um funcionário, da mesma companhia aérea que nos trouxe, pediu-me a autorização judicial para que eu saísse do país com meu filho. Minha ignorãncia e despreparo eram tais que achei que fosse uma brincadeira. Só percebi a seriedade ao ver o semblante do funcionário...
Resumo dessa nossa ópera: não ingressamos. A agência de viagens vendeu-nos passagens com preços promocinais e com restrições, como por ex, estávamos impossibilitados de trocar data de vôo sob quaisquer circunstãncias...
Primeiro ficamos muito frustrados. Depois de dias, começamos a pensar se valeria mesmo a pena investirmos uma quantia elevada para regressarmos ao Japão, ou se o Alex é que deveria voltar pra cá...Estávamos colocando na ponta do lápis (e nos corações)uma série de fatores.
Enquanto pensávamos em nossas vidas, começaram as demissões em massa onde Alex trabalhava, como em todo o Japão.
Finalmente chegou o dia em que Alex foi demitido também, porém imediatamente relocado em outra fábrica, o que rendeu-lhe dois meses de salário e esperança. Depois disso foi demitido outra vez, em meio a outra leva de funcionários.
Agora, Alex aguarda receber o seu seguro desemprego antes de voltar, como tantos outros dekasséguis.
As agências públicas de emprego no Japão,chamadas "Hello Work",estão abarrotadas de desempregados. Dura verdade: nihonjin e gaijin estão sendo engolidos pelo furacão do desemprego.
Resumo dessa (outra) nossa ópera: Alex já está de malas prontas e vamos ter que (mais uma vez) recomeçar.
Na próxima semana, se não houver mais imprevistos (afinal, nossa vida é uma aventura..) devemos estar em Campinas, em um novo endereço. As aulas do Vic começam em 02 de fev e encontramos uma escola muito bacana para ele! :)
Breve mais notícias. (Espero que boas!)


PS:

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

É...

José

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?


Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?


E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora?


Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?


Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!


Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, pra onde?


(Carlos Drummond de Andrade)


PS: Na foto, o Vic em maio de 2006. Logo que chegamos ao Nihon...