sábado, 28 de junho de 2008

Chove chuva...

Olha só, que coisa...Meio que sem querer a gente vai tomando conhecimento de artistas interessantes, que nunca antes ouvimos falar...Eu buscava pelo poema de Oswald de Andrade: "Soidão" e graças ao "Dr. Knows" (google) encontrei este guri gracioso que pode ser ouvido logo abaixo...
(Enquanto isso, nesse domindo chuvoso, vamos resolver algumas coisas e tirar fotos que uma amiga pediu para um trabalho de faculdade dela aí no Brasil...)


SOIDÃO- Oswald de Andrade

Chove chuva choverando
que a cidade de meu bem
está-se toda se lavando

Senhor
que eu não fique nunca
como esse velho inglês
aí ao lado
que dorme numa cadeira
à espera de visitas que não vêm

Chove chuva choverando
que o jardim de meu bem
está-se todo se enfeitando
A chuva cai
cai de bruços

A magnólia abre o pára-chuva
pára-sol da cidade
de Mário de Andrade
A chuva cai
escorre das goteiras do domingo

Chove chuva choverando
que a cidade de meu bem
está-se toda se molhando

Anoitece sobre os jardins
Jardim da Luz
Jardim da Praça da República
Jardim das platibandas

Noite
Noite de hotel
Chove chuva choverando

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Eles me dominam

Quando a gente menos espera, coisas engraçadas saem da cabecinha do Victor! Tem coisas que até viram piada familiar. Daquelas inesquecíveis mesmo...

Ele sempre ouve falar em "papai do céu". Eu mesma, para ser coerente com a prática do Alex, faço com o Vic um agradecimento noturno ao "papai do céu", pela vida e pelo dia que termina. É mais uma forma de incentivar a gratidão ao mesmo tempo em que mantemos uma rotina de preparo para ele dormir.

Outra noite ele me fez a famigerada pergunta:

- "Quem é o papai do céu?"

(Sempre achei que a escuridão nos inspira ao ato reflexivo...)

Expliquei que é um personagem que cada pessoa imagina de um jeito diferente. Que talvez ele nem exista, mas que muita gente acredita que sim... Em outra ocasião, o Alex deu uma explicação protestante para a criança. Vic, então, me perguntou qual das respostas é a verdadeira.

Contei que ninguém tem certeza sobre esse assunto misterioso...
Mas como o Alex é um pai cristão sério, o garoto tende à crença cristã. O meu pai, aliás, ficaria muito satisfeito com eles. (Complexo de Electra, eu?!)

Um dia o Vic revelou para mim a sua própria teoria sobre quem é o "papai do céu": UM GRANDE MÁGICO...

No início de 2007, minha cabeleira já estava precisando de um corte. Fui, então, para um salão de cabeleireiro japonês. Resoluta e muda apontei para uma foto que vi numa revista.
A japonesa tentou me dizer algo. Entendi que foi alguma pergunta e seja lá qual tenha sido, resolvi rasgar o meu nihon-go:
-Kore, onegai shimasu.*
(Não aconselho a nenhum outro estrangeiro na mesma condição- de ignorante completo do idioma- a cometer esta loucura!)

O Vic ficou em estado de choque quando me viu, e disse:

-Mamãe, COMO VOCÊ FICOU FEIA!!! :(

Entendi perfeitamente a reação do menino. Não foi diferente da minha, na verdade. Aproveitei a situação, para provocá-lo um pouquinho...Queria ver sua reação diante da minha crise:

- E agora? O que eu faço? Estou muito triste...Eu queria ficar bonita e fiquei mais feia! Quem vai gostar de mim? (Coloquei as mãos no rosto e fingi que estava chorando...)
-Eu gosto mamãe! Calma que a gente vai dar um jeito...Hm...Hm...
-E será que o seu papai ainda vai gostar de mim? (Buááá)
-Hm...Acho que vai sim! Ele é legal...
-E se ele não gostar mais?! (Buááá)
-Calma mamãe, ele vai gostar, sim...Tá tudo bem! Eu vou pensar num jeito...
-Ai, ai...Que tristeza... Eu não queria ficar feia... (buááá)
-JÁ SEI, MAMÃE!!!! Eu tenho uma IDÉIA! Vou pedir pro papai do céu fazer uma MÁGICA no seu cabelo! :)

(Tóim!)

Não contive uma boa gargalhada. Depois enchi o guri de beijinhos e apertões. Por último expliquei a ele que cabelos crescem :) (E, claro, eu mesma tinha que me conformar com isso...)

Hoje nós dois estávamos vendo fotos e encontramos esta aí, em que o meu cabelo está como naqueles dias em que foi cortado. Eu falei pra ele:

-Olha, filho! Lembra quando a mamãe cortou o "belão" desse jeito e ficou muito feio?
-É, né, mamãe? Já cresceu...Não tava tããão feio assim...Você pode até cortar de novo se quiser...
(rsrsrs)
*Este aqui, por favor.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Nosso próximo presidente?

Ganhando o pão de cada dia aqui, entre as nipo-news de facadas e terremotos, não deixamos de pensar em nossa pátria, onde os homicídios, geralmente, têm mais a ver com pobreza e terremoto (ainda) é coisa de outro mundo...(Certo que a situação aí também não é boa, mas ainda é o nosso lugar e não desistimos do Brasil...Estamos aqui com os corações aí!)
Vi hoje este vídeo. Diz respeito a um possível candidato à presidência da República nas próximas eleições...Que meda! :(
O filme é curto e importante. Cheguei a ele através do blog "tamos com raiva"

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Eu não sou daqui.

Tem música que a gente ouve uma vez e depois fica com ela na cabeça, não é mesmo? Esta abaixo está tocando desde ontem aqui dentro...Tanto, tanto que estou registrando a persisitente. Não, não é só por isso. É porque gostei da letra também, que, em conjunto com a música, que dá aquele "tchans" de alien, teve ressonância em mim. (Por vários motivos).
Onde eu a ouvi? Então...Num filme que...bem, é um filme com final previsível, beeem otimista, norte americano e tals, mas...Sei-lá. Eu gostei. Fiquei emocionada. Chorei...Blá, blá e tals...O nome do filme é: Ensinando a viver. Conta uma história de adoção.Uma história diferente, meio fabulosa, mas emocionante. Bem...eu sou uma chorona mesmo. Além do mais, histórias (de amor) de família me emocionam...
Olha, quer saber, na pior das hipóteses, ouça a música, ela é legal. Quer dizer...Eu gostei. Gostei sim!
Enfim, com vocês, Satellite! :)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

"Quem tem alma não tem calma"

Sem nada a declarar, apenas sinto e cito...


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
(...)

Alberto Caeiro (ou Fernando Pessoa)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Homicídio

Nós surtamos.
Vós surtais.
Eles matam.

Nervoso, irritado, bravo, muito, muito bravo. Quem não fica?

Ofender alguém, bater a porta, chutar a almofada, jogar o travessseiro, dar uns gritos, tudo isso tem conserto, se o agressor se arrepende mais tarde. Tudo humano. Muito humano e superável.

Mas, tirar a vida de alguém porque está desequilibrado emocionalmente é irreversível e, sem dúvida, revoltante. Suicídio é um erro que deixa marcas profundas e uma falta muito acima da capacidade de perdão dos sobreviventes.

Imagino que as causas que levam o ser humano a qualquer forma de violência sejam muitas. Eu não saberia dizer quais são. Nem quero ser reducionista, mas imagino que nesse mundo onde o vil metal tem sido sempre prioritário, a maximização da cobrança e do desafeto devem colaborar para a criação de monstros na sociedade.

Acredito que a vilolência deveria ser considerada como uma questão de saúde, ou melhor, de doença. Doença social.

Uma sociedade que exaure seus cidadãos pode estar construindo agressores, ou alimentando suas agressividades.

No mês passado, aqui mesmo, nessa pequena cidade onde moramos, Joso-shi, uma menina de 9 anos de idade foi morta, ao voltar da escola para sua casa. Foi esfaqueada em plena luz do dia. Cerca de um mês depois, ninguém sabe quem foi o assassino. Escolas e pais ficaram, desde então, preocupados e estão de olhos mais atentos.

Hoje temos a notícia estarrecedora de que um homem, atropelou e esfaqueou várias vítimas em Akihabara-Tokyo, no último domingo. Uma pacato cidadão, de repente, perdeu total controle de si e depois de atropelar alguns transeuntes, saiu esfaqueando qualquer pessoa que visse em sua frente. No total, foram 7 mortos e vários feridos, segundo reportagens.

Detalhe interessante: no link abaixo, onde pode ser conferida uma das reportagem a respeito do terrível acontecimento em Akihabara, lemos que há um ano atrás, um outro rapaz, esfaqueou algumas pessoas, também em Tokyo.

Por quê, num país rico, existe violência? Será que a violência deve ser restrita a um caráter moral? Isto foi um ato de loucura? Que tipo de loucura pode ser esta? Como será tratado este caso? Minha hipótese é que este é um fato social com vários viéses.

A violência que causa mortes, é a mais alarmante. Mas há também outras formas de violência e que prejudicam muito os indivíduos na sociedade. E, talvez (quem sabe?), antes de torna-se um assassino, pessoas assim já tivessem sinais de desequilíbrio e frustração anteriormente.

Se a violência está aumentando- parece que sim!- gerando mal estar em diferentes grupos da sociedade japonesa, incapacitando pessoas, física e emocionalmente, reduzindo a qualidade de vida dos indivíduos, deveria ser vista não apenas como caso de segurança pública, mas também como caso de saúde pública-preventiva.

Caso contrário, aquele Japão zen, que todo turista conhece quando passeia por Kyoto, vai morrer nos templos.


Abaixo dois links: um a respeito da notícia do ataque em Akihabara e outro a respeito de violência no país:




As fotos são do jornal japonês Mainichi

sábado, 7 de junho de 2008

Estranha no ninho!

Eis que uma japonesinha me espantou... Ela estava dando aqueles passos titubeantes de quem aprendeu a andar semana passada. Pirulitava feliz com sua bundinha de pato e um brinquedo de pano nas mãos. Alegre entre as prateleiras de livros infantis e confiante em seus passinhos de principiante, jogava charme pra toda gente.

A japonesada por onde ela passava, dizia (inevitavelmente) sorrindo quando via a nipo-miniatura:

-"Kawaiiii !"*

Encorajada a cada elogio, a pequena seguia contente em sua aventura. O pai estava sempre atrás, sorrindo, com lábios e olhos, aquele sorriso (de pai) orgulhoso.

Numa das prateleiras, a pequena deu de frente com um rosto diferente de alguém que tamém via livros. Fez biquinho e, com cara de choro, voltou-se em direção ao seu protetor...

(Oh, uma estranha! )

Antes que eu pensasse em dizer algo, a criança reagiu negativamente a minha presença.. Fiquei com medo que a pessoinha chorasse por causa de minha estranheza e até desisti de ver os livros... Constrangida por ter sido o motivo do susto da princesinha- e antes que ela chorasse- deixei o lugar.


* "Que gracinhaaa!"

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Aos meus amigos

Canção do exílo, conhecidíssimo poema de Gonçaves Dias, reflete bem sentimentos meus recorrentes aqui no Nihon. (Aliás devem ser sentimentos comuns entre emigrantes no mundo todo!)

Solidão e saudade deixa a gente triste e abatido mesmo, parece que não tem jeito. Mas a ausência física, ainda mais nos dias atuais, não nos impede de comunicação e amizade, não é mesmo?

Meu coração se enche de alegria e gratidão pelos amigos queridos que, quando podem, "aparecem" para dizer um olá, seja por e-mail, orkut, aqui mesmo no blog, pelo correio tradicional, ou através de um telefonema. Esses sinais de vida fazem diferença.

Cada vez que um amigo nos envia uma notícia boa ou alguma outra mensagem (própria), é um pedacinho bom do Brasil que recebemos! :)

Esperança e amizade é o que nos mantém firmes em nosso exílio. Estou aprendendo (ainda!) que mesmo quando as escolhas que fazemos ou o imprevisível separa nossos caminhos daqueles que gostamos tanto, a amizade pode mesmo permanecer.

Em qualquer lugar podemos sentir o carinho e a presença dos amigos. Estão sempre em nossos corações e pensamentos porque nutrem (também) esse bom vínculo afetivo.

Alegra-me cada amigo que tenho. Não vou citar nomes, quem é amigo sabe...
A todos vocês que não saem do meu coração e que me ajudam a acreditar que longe é lugar que pode não existir, minha gratidão.