quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sabores Exóticos

Quem pensa que feijão dá uma boa sopinha, nasceu pra acompanhar o arroz, vai bem de tropeiro ou dá um belo tutu, apenas, está muito enganado.

Confesso: ano retrasado quando me disseram que aqui no arquipélago existe sorvete de feijão achei bizarro. Mas, quase dois anos depois, Alex me pegou desprevenida... Para quem não sabe, ele é o rei dos exóticos ( casou-se comigo- uma excessão, óbvio!).

Voltando ao rei dos exóticos, ele apareceu com um sorvete cor de creme, cheio de casquinhas marrons e oferecendo:

-"Experimenta..."

E assim descobri que um sorvete esdrúxulo pode ser uma saborosa descoberta! Ou, ainda, o que a linguagem não nomeia, a língua saboreia. (Não necessariamente, lóóógico!) Enfim, bobagens à parte, é fato que, se o Alex tivesse dito que aquilo era um sorvete de feijão, eu teria recusado a sobremesa categoricamente. Mas, como ele foi sagaz...TCHARAM!! Gostei. :) Pra falar a verdade, não é o melhor sorvete do mundo. Mas é bom, sim. (Só não criem grandes expectativas. Afinal, feijão não é chocolate, né?)

Outro sabor bem diferente por aqui , é o sorvete de chá verde. E deste eu não gostei mesmo! Mas, verdade seja dita: eu nem gosto muito de chá... Verde, então?! Urgh! Só sob tortura! Muito amargo! E o problema, pra mim, é que a guloseima gelada, tem um gostinho amargo que não nos deixa esquecer que é de chá verde... Se fosse só pelo aroma, tudo bem...Mas amarguinho num sorvete é mesmo de amargar, hein! :( (Depois desta estou atenta pra ver se não me deparo com sorvete de peixe também. HUAHAUHAUHAUHAH)

Eu gostaria de explicar melhor como são esses sabores, mas fico em débito. (Acabo de experimentar o quanto é difícil descrever um sabor...) Mas não fiquem tristes aí por isto! Soube que vocês podem experimentar sorvete de feijão e de chá verde na Liberdade, em São Paulo, segundo informações de colegas fãs do bairro e da cultura nipo.

Ainda quanto a apreciação do "sabor verde", tem tantas variedades de doces, biscoitos, bolos e chocolates sabor matchá, além do já dito sorvete, que encontramos lojas especializadas em guloseimas de chá verde. Incrível!

Isto tudo é exótico pra gente como eu, mesmo sabendo que docinhos de feijão e de arroz são comuns no nipo- world...Uma coisa é o sujeito saber que existe. Outra coisa é o sujeito ter experimentado uma vez ou duas numa festa das nações em, seu país. E outra coisa, ainda, é o sujeito conviver com isto tudo diarimente e ver lojas especializadas nesses sabores, ou ver gente se espantando com o seu espanto sobre isso tudo, entendem? (Acho esta experiência interessante: a de se espantar com o espanto dos outros...)Mas o exótico depende do referencial, não é mesmo?

Os japoneses acham exótica, por exemplo, uma bela feijoada (aliás devem achá-la muito feia!) e não necessariamente apreciem este prato popular brasileiro, Farofa? Coisa de outro mundo! Sopinha de fubá da minha vovó? Que fubá? Aqui só encontramos fubá em lojas de produtos brasileiros...Enfim, tudo isso só pra enfatizar que exótico é O OUTRO...

Agora, cá pra nós, o sorvete de algodão doce que eu experimentei aqui é divino! Gente, aquilo dissolve na boca!!! Hmm.... Tem sabor de algodão doce, com a vantagem de não arder a garganta ao final, de tão doce que é - o que sempre acontece quando comemos o algodão doce. Em outras palavras, o sorvete não é enjoativo, nem super adocicado. Não! Este sorvete é suave e bom!Muuuuuuuuuito bom! Imperdível pra quem gosta de doce! E dele, se não tem aí no Burajiro, eu vou sentir saudades, ah vou... Vou sim!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Frio Frio Frio

Que o inverno daqui é bravo e o verão é cruel, acho que todos já ouviram falar. Mas o inverno do ano passado, nesta cidade, nem mumúrios sobre neve teve! Só ventanias horrosas e geadinhas noturnas esfriaram bastante o arrozal onde vivemos.

Hoje, porém, caiu neve aqui e foi dureza sair da cama pela manhã!Brrrrrrrrrrrr...

Frio gélido!!!

Nada mais a declarar. Vou tomar meu misoshiru bem quentinho...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Gaijin*.

Como é estar aí, na condição de dekasegi? Como é chegar aí sem saber nada do idioma? Como vocês se sentem aí? Como é a rotina de um dekasegi, em geral?

Encontrei o vídeo abaixo e gostei por isto: ele mostra como vemos os kanjis ( ideogramas), como ouvimos os sons da língua "estranha" e como nos sentimos estranhos por aqui. Principalmente nos primeiros meses, a sensação e a rotina é bem esta (angustiante) que o vídeo permite a gente (re) experimentar...

Enjoy it!

*Gaijin: estrangeiro

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Dia De Virar Gente Grande

A segunda segunda feira do ano é feriado aqui no Japão. Motivo: Dia da Maioridade, ou, em japonês (romanizado, claro!), Seijin no Hi.

Segundo a tradição, a moçada com 20 anos de idade completos, ou prestes a completá-los, celebra este dia com muita pompa. Aliás, tanta pompa que até parece casamento! O rito de passsagem é feito perante as autoridades locais. A coisa é "Chique nurtimo", como dizem aí no Burajiro...

Antes de chegar no Japão eu imaginava que encontraria gente andando de kimono com mais frequência. Isto não é assim. Hoje o kimono é utilizado em comemorações mais especiais, como neste dia da maioridade, casamentos e outras festas.

Para a celebração do Seijin no Hi, os jovens adultos vestem trajes formais. Rapazes usam terno e gravata e moças usam o furisode, um kimono especial e caríssimo! É comum as jovens usarem o furisode que herdaram de suas mães ou avós. Este Kimono é tão complicado quanto especial. A mulheres contratam profissionais para vestí-las de forma adequada, tamanha dificuldade de colocar aquele tanto de pano! Além disto maquiagem e penteados especias para o grande dia fazem parte da labuta feminina para o evento inesquecível.

Durante o dia, esses jovens, participam de uma cerimônia junto às autoridades da cidade, pais e familiares, quando são homenageados e lembrados (ou alertados?) sobre seus deveres e direitos. Muitos agendam uma sessão de fotos em estúdio (isto é muito comum aqui!) e algumas famílias promovem festas particulares. Outros simplesmente juntam-se aos amigos para bebemorar e fumar bas-tan-te!!! :/

Enfim, a idade de 20 anos para um japonês é notorimente especial. E não precisa ser linguísta, nem dominar o idioma para achar curioso (interessante) o fato de que a palavra usada para expressar 20 anos de idade é hatachi, enquanto que para as outras idades, diz-se o número correspondente a idade acrescentado de -sai. Por exemplo: Ichi-sai, Ni-sai, San -sai e assim por diante.

É isto. Aqui hoje foi feriado nacional. O Japão comemorou a maioridade de seus mais jovens adultos. A atual turma dos 20 foi finalmemnte (!) reconhecida pela sociedade como "gente grande". Turminha que acabou de adquirir o seu direito de voto, de casamento sem consentimento dos pais, de consumir bebida alcoólica em público e fumar (mais) à vontade. Parabéns aos jonvens que passaram para a vida adúltera. :-o Ops!

Obs: Foi feriado Nacional, mas o calendário da fábrica onde o Alex trabalha não concorda. E ele nem ficou triste. Foi trabalhar sem crise; não bebe, não fuma e já completou 20 aninhos faz tempo mesmo...

ps1: Peguei a foto da internet. Não sei quem é o dono, mas gostei muito. Coube perfeitamente no contexto.
ps2: O ps1 responde, de antemão, aos amigos esperaçosos de que eu apresente uma bela japonesinha a eles. Não, ela não é minha amiga, sinto muito rapazes.
ps3: Hj é dia 14 de janeiro (segunda segunda-feira do mês de janeiro) e não 13, como consta aqui em cima, no blog...Alguém sabe se tem jeito de arrumar isto?

sábado, 12 de janeiro de 2008

Victor Sunaga

Victor, o nosso filhão, a alegria maior de nossas vidas, o tesouro precioso que temos em mãos, completou 5 aninhos no último dia 10. Neste dia 13, domingo, estaremos cantando parabéns para ele. A comemoração vai ser aqui mesmo, em nosso apertamento. Vai ter bolo de chocolate e bexiga :)
O poema abaixo é dedicado a ele, que é, além de tudo o que eu já falei, também A MÚSICA DA MINHA VIDA! (Bem dedicado não é exatamente a palavra, pq não sou o autor do poema, mas eu coloco aqui para homenageá-lo. É o que eu gostaria de dizer...)

Poema enjoadinho

Filhos…Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete…
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los…
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

Vinicius de Moraes

sábado, 5 de janeiro de 2008

Ano Novo No Japão

Aqui, como já disse, não é feriado nacional o dia 25 de dezembro. Ao contrário, tudo funciona no país como um dia qualquer.Mas tivemos um feriado no dia 24 de dezembro, não por causa do menino Jesus, nem por causa do Papai Noel, mas por causa do aniversário do Imperador Akihito.

O aniversário do japonês que vale um feriado nacional é dia 23 de dezembro e desta vez caiu num domingo. O feriado no japão, quando cai num domingo, é realizado na segunda seguinte.E se estou escrevendo isto, sobre o 25 de dezembro, pela terceira vez (!), é porque é um fato realmente chocante para mim, ocidental acostumadíssima ao feriado do dia 25 de dezembro. Afinal, depois de trinta (!!!) natais à moda ocidental é no mínimo um choque cultural o primeiro 25 de dezembro no oriente, concordam?

Ok, já passou a época de falar sobre Natal e sobre o aniversário do Imperador...Vamos agora ao que interessa no momento, as comemorações da passagem de ano pelos japoneses. Atendendo a pedidos e para deixar registrada minhas impressões desta data importantíssima por aqui segue abaixo mais um (enorme) texto do que meus olhos viram na terra do sol nascente...

O primeiro de janeiro (Oshogatsu) deste lado do mundo não é recebido com estardalhantes queimas de fogos, nem com pessoas vestidas de pai de santo ou fantasiadas de agentes de saúde...

Em silêncio, para respeitar os vizinhos (sim, esta é uma cultura que se importa em não atrapalhar a paz do outro), o ano novo não deixa de ser super comemorado pelos japoneses. E é notório que este é o feriado mais importante do país, cheio de símbolos religiosos e estendido por dias, o país pára para agradecer pelo calendário findo e fazer preces pelo ano novo.

No Oshougatsu, empresas, órgãos públicos, bancos e escolas suspendem suas atividades do dia 1 ao 3 de janeiro. Segundo a tradição japonesa, não se deve trabalhar nestes dias porque pode-se espantar o deus da Felicidade. (De minha parte, prefiro a paz com todos os deuses, hehehe) A maioria das empresas estende essas “férias” por uma semana. O Alex, por exemplo e o Victor só voltam à velha rotina no dia 7, segunda -feira próxima.

Este período é reservado para o descanso e recepção do novo ano, que é repleta de rituais. Por isto as nipo-donas de casa não cozinham por estes dias (Ai, que chato!Resolvi aderir a cultura...) Chato sim, porque a mulherada se escabela para preparar o banquete de 3 dias de festas antes que as comemorações comecem. As modernosas (eu estou nessa!) apelam para os restaurantes que ficaram todos cheios por estes dias!

A série de rituais nipônicos para as comemoracões da virada do ano têm início muitos dias antes de 31 de dezembro!

Os rituais de preparação para receber o ano novo começam com a limpeza meticulosa da casa. Tudo deve estar bem limpo e organizado para o ano que chega. Isto acontece também nas empresas em geral, escolas etc. As crianças aprendem já no jardim de infância, a praticar este ritual religioso. Cada pequeno aprendiz deve fazer a limpeza da sua gavetinha ou do seu armarinho na escola, por exemplo. Isto é não apenas para higienizar o ambiente. Simboliza, aqui, a purificação do ambiete e da alma (afasta os maus espíritos).

Feita a purificação, é hora de atrair os bons espíritos. Para isto, os japoneses ornamentam as entradas das casas, comércios e demais estabelecimentos com arranjos feitos com bambu e ramos de pinho. Este arranjo é conhecido como Kodomatsu.

Na noite da virada, milhares de japoneses vão aos templos para saudar o ano novo e para fazer suas orações. Pedem por saúde e felicidade. Essa primeira visita ao templo é chamada de hatsumoude.Os sinos dos templos são tocados 108 vezes para lembrar aos budistas dos 108 pecados do homem. A última badalada é tocada extamente no momento da virada do ano.


Quem não foi ao templo ouvir as 108 badaladas dos sinos na virada do ano, tem até o dia 3 de janeiro para fazer hatsumoude. No templo existe todo um ritual a ser feito, bem interessante. As pessoas formam uma fila para chacoalhar o sino e em seguida, jogam uma moeda como oferenda para os deuses e fazem a sua prece. Depois disso, batem uma palma (vi gente batendo duas...) reclinam a cabeça e saem.

Muitos jovens, e alguns nem tão jovens assim, passam a virada em montanhas ou na praia para ver o primeiro nascer do sol, esta prática chama-se hatsuhinode. Fazem isto para receber, dos deuses, alegria e prosperidade para o ano todo.

Geralmente no primeiro dia do ano os japoneses visitam os parentes e levam presentes de ano novo. Em geral os presentes são alimentos e bebidas, mas têm também outras opções. As lojas vendem kits especiais nesta época. Os presentes são para demonstrar gratidão às pessoas. Além de parentes, os nihonjin também costumam presentear superiores em geral e pessoas com as quais convivem no dia-a dia.

Escrevi muito, não é mesmo? Mas o que eu escrevi não é tudo, creiam! Tem detalhes da culinária tradicinal e outros costumes de ano novo, que eu nem mencionei, porque este post está longo demais! Deixo esta pendência para a próxima virada de ano aqui...

Agora que o ano novo já teve início a frase a ser dita é: Akemashite Omedetou Gozaimasu! (Parabéns pela passagem de ano!) Diferente, né?