quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Entre putas e crentes

Já escrevi sobre a vizinhança no prédio onde moramos...Mas, como minha vidinha não sai muito deste contexto miserável, vira e mexe, é pro meu umbigo que estou olhando...

E se isto parece feio é porque o ser humano não é muito bonito mesmo... E eu sou demasiadamente humana. :(

Falando em linguagem Nietzscheniana...(Mais assossiação de ideías!) :) Compartilho da visão Hobbesiana sobre o ser humano. Parece bem coerente com o que vejo...

Acho que os amigos do outro lado não sabem que aqui, neste prédio, moram também algumas moçoilas de programa. Além daqueles vizinhos que citei em posts anteriores.

Estas meninas que exercem talvez o mais antigo(?) comércio tradicional do mundo recebem vários nomes...

Prostituta deve ser o mais feio de todos. Tããão grande! Tãããão prolixo pra dizer algo quase simples.

A expressão "garota de programa", enverniza a verdade, na minha opinião. Além do mais, falando assim podemos comprometer as programadoras computeiras que, curiosamente, não trabalham no mesmo mercado (via de regra)...

Vejam só, como tem detalhes pra gente pensar antes de adotar um nome que signifique alguém!
Mulher da vida acho que soa um julgamento de que as moças são todas largadas, abandonadas, tristes e muito pobres...Assim como as típicas putas da praça da Sé, em São Paulo...Quem já viu sabe. Um quadro absolutamente caótico e triste.

Mas as putas não são todas como as da Praça da Sé... São mais parecidas com as bonecas da linha Barbie.Tem vários modelos. As de luxo. Versão praia. Cult. Surfistinha, né? E certamente muitas outras... A puta versão Sé também é real, mas o mercado é mais amplo, oras...

As que moram aqui ao lado intercalam entre uma versão dia-dia e festa, se meus olhos não me enganam. Circulam por aqui em vários horários, sempre com elegância...
Como percebem, prefiro chamá-las putas. Nome curtinho como o amor que as coitadas dispõe aos pobres homens...

E isto será mais um fato memorável desta estadia no Japão... Vou dizer um dia: "Já morei entre putas e crentes..."

(Fantástico mundo de Francis!)

Mas digo que são ótimas vizinhas, estas putas garotas daqui . Tranquilas, silenciosas, discretas, educadas...

Já meus vizinhos crentes se dividem em dois grupos: os que não tem educação e os que são falsos.

Dos que não tem educação já falei outro dia.

Quanto aos falsos, me cumprimentam quase sempre, mas falam mal de mim, em minha ausência. Acreditam que vou para o inferno porque não sou da tribo deles etc.... :/

Tudo bem. Vou sorrindo e acenando...

Assinei o Contrato Social... A antiga arte da convivência sobrevivente exige isto, não é?

"O homem é o lobo do homem", já dizia o filósofo inglês.








PS: Estes dias, soube, duas putas trabalhadoras deixaram seu apartamento. Estou aqui, na torcida para que não venha mais vizinho sem noção por perto.
PS 2: Prefiro as putas. Não me julgam e respeitam o meu silêncio.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Semântica Amorosa

Ai shiteru, (eu te amo, em japonês) não é falado com tanta frequência neste lado do mundo. Nem para os mesmos fins, parece-me...

Hoje pela manhã, lembrei-me de um dia, quando trabalhava na Canon... Estava entre outros dekasegis, em um momento tranquilo de trabalho. Fazíamos o que chamamos de Uen (trabalho fora da nossa linha).

O chefe daquela seção era um jovem simpático e descontraído. E, como era um tabalho mais que simples, estávamos todos muito tranquilos - inclusive o jovem kachoo...

No contexto leve de trabalho, certo novato aproveitou para aprender pequenas frases usuais e de sobrevivência com uma senhora nisei. ..Sua última dúvida: "Como se diz "eu te amo" em japonês?" A senhora sorriu e ensinou. O rapaz repetiu a frase sorrindo. De modo que o diálogo ficou mais ou menos assim:

Ele- Como se diz "eu te amo" em japonês?
Ela- Ai shiteru.
Ele- Ai shiteru?
Ela- Hi.
Ele- Ai shiteru...ah... ai shiteru!

O chefe, que não entendia português, ao ouvir o estranho diálogo entre os dois, fechou um pouco o semblante e orientou que não se dissesse "Ai shiteru" no ambiente de trabalho.

A lembrança desta cena foi desencadeada hj enquanto "orkuteava". Repensei sobre a amplitude(?) do sentido do verbo amar em português.

Acho quase incrível a facilidade que temos para dizer "Eu te amo" para alguém que mal conhecemos, situações e...fast food!?!

Ninguém diria, por exemplo, em grego (clássico) s'agapo para um mc lanche, que aliás deixa muita mãe triste... Falando nisto, o slogan da famigerada Indústria de fast -food, por estas bandas, usa o slogan em Inglês ( I'm lovin't) :/

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Por enquanto, e sem energia para estender minhas divagaões, compartilho algo da música JPOP.

A letra fala de algum amor. A cantora morreu em maio deste ano, mas não foi de amor. Talvez na falta dele...aos 40 anos. Caiu de 3 metros de escada (?!) de um Hospital, onde se recuperava de uma cirurgia de câncer. Era cantora e letrista do grupo Zarp.

Vixi! Comecei falando de amor, acabei falando de morte...Credo!

Deixemos tudo pra lá. Vamos à música e a tradução que segue...



DON’T YOU SEE

(Tema Final da Trilha Sonora do desenho Dragon Ball Z)

By: ZARD (Izumi Sakai 坂井 泉水)
Tradução: Darcy Suzuki

Da mesma forma quando escrevo uma carta a um amigo,

Gostaria que as palavras fluíssem naturalmente.

Eu queria mais tempo para nós nos conhecermos.

Ouvir que só familiares não traem é triste demais.

O amor está pedindo para ser amado.

Caso eu desista de acreditar

Sei que vou me sentir aliviada, mas...

Você não percebe! Mesmo pedindo, orando, milagres, lembranças...

Preste um pouco de atenção.

Você não percebe! Este seu costume de fingir-se distante,

É pelo medo de se arranhar.É pelo medo de se arranhar.

O instante de silêncio na espera no ponto de táxi...

Foram apenas 5 minutos mas senti extremamente longo.

Uma paixão forçada, pálida e cansada, ameaça a se tornar num mero acontecimento.

Você não percebe! Nas pequenas desavenças

Porque ambos somos persistentes, eu me aliviei.

Você não percebe! Do que mirar várias pessoas

Eu prefiro continuar sempre te olhando.

Envie-lhe o meu amor

Rosas nunca desvanecem

Eu não quero dizer

Tchau!

Você não percebe!

Eu nunca (sic) lhe preocuparei, esta noite

Eu estarei ao seu dispor, esta noite

Você sabe, eu faço isto por você…

Você não percebe! O cheiro da cidade que nascemos

Você não percebe! O cheiro da cidade que nascemos

Você não percebe! Por mais apressado que esteja, do que qualquer outra pessoa no mundo,

Peço que continue me segurando.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Algumas vezes é tão difícil...

Hoje até que foi um dia tranquilo. Alex e eu fomos ver o Vic na escola, pela manhã. Teve uma aula de Educação Física, aberta aos pais.

Percebi que não estava me sentindo muito bem de saúde. Sentia dor de cabeça muito forte e náusea.
Agora, mais no final da tarde, comecei a ter tontura e tremor nas mãos.

Preciso ir ao médico rápido. Mas os médicos por aqui, na região onde moramos, não falam inglês e só nos atendem se levarmos um intérprete. Isto dificulta nossas vidas com certa frequência. É um dos problemas de viver em cidadezinha interiorana, aqui no Japão.

Um tsuuyaku*, aqui, cobra 10.ooo ienes por consulta. Isto é muito dinheiro! (Eu acho...)

Tem um homem, de uma seita comum aí no Brasil, que uma vez por mês faz a caridade de levar um monte de brasileiros ao médico. Ele me parece uma pessoa muito generosa...

Mas a generosidade de muitos religiosos não é de graça. Já experimentei este veneno. Imaginam as consequências deste favor? Me dá calafrios só de pensar :/

Eita vida! Acho que meu coraçãozinho já não aguenta mais tanta aventura por este mundão sem fim...Pelo menos na Alemanha qualquer médico falava inglês quando precisávamos...

Algumas vezes viver por aqui me parece muito difícil. E aquela coragem que nos trouxe para o outro lado do mundo desmorona. Isto algumas vezes...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

TV infantil japonesa

Geralmente o Vic demora um pouco para acordar, depois que dou nele o meu beijo de "Bom Dia". Então, eu ligo a TV no canal 3 e ele vai despertando com a música inicial do programa infantil que vocês podem conferir no link abaixo.


(O Vic gosta muito da música que aparece quase no final deste vídeo: "Toyoyoyoyn...")

Aqui os programas infantis são ingênuos (e mais curtos também). Não há "paquitas fofuxas" hipnotizando os pequeninos (nem os retardatários) :)

Obsevem como são bem mais "simples", os apresentadores infantis da TV japonesa...

O link que segue mostra a última parte do programa que o Vic assiste pela manhã. Qdo eles dizem: "Sayonara!!!", o Vic já sabe que está na hora de irmos para a escola...


sábado, 17 de novembro de 2007

Rindo de (des) graça

Aqui vai o link correto do vídeo que minha amiga Deborah Vogel indicou no comentário do post de 14/11/2007. O vídeo é cômico, mas o assunto é sério. Vale conferir, principalmente para quem não quer ler o montante que escrevi, mas quer saber do que se trata...

Betina, neste vídeo, está expressando de forma divertida basicamente a mesma indignação minha. A diferença é que ela está aí e eu aqui.

Confira, ria e indigni-se com a gente! Ah, e se puder, "Muuuuuuuuuutly, faça alguma coisaaaaaaaaaaaa!!!"

( Se você não entendeu a piadinha entre aspas, significa que não assististia a Corrida Maluca, um desenho infantil sugoi* da década de 80, aí no Brasil)

Enfim, o link, melhor: O vídeo!



*Sugoi: palavrinha muito usual aqui no Japão. Neste caso eu quis dizer: fantástico, MUITO BOM! Mas pode significar o contrário, isto é, MUITO RUIM.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O melhor do Brasil é o brasileileiro. Como assim?

Depois do post anterior, vejam um vídeo no link abaixo. É bonito. (Bem feito, quero dizer) Mas lamentável que tenha tanto adulto precisando de sambinha para aderir aos bons costumes da civilidade...





Por outro lado, pensei, será que se meus vizinhos assistirem este videozinho e ouvirem o sambinha várias vezes, "Essa moda pega"? :)

Apartamento não é para apartar?


Estes dias me dei conta de como os meus vizinhos tem importância na minha (qualidade de) vida.
Meus amigos mais próximos sabem que não sou lá muito sociável. Nem tenho o hábito de vizinhar e isto já restringe, quem tem este hábito, de frequentar minha casa também sem bons motivos.(Bem, esta regra não vale para os íntimos e eles sabem disto.)
Infelizmente aqui no Japão, encontrei brasileiros que agem no extremo oposto da ampla possibilidade de política da boa vizinhança. Alguns de meus vizinhos brasileiros perderam (ou nunca souberam) a noção de limite.
Estive pensando...Não sei qual a origem da palavra apartamento, mas me soa como algo que aparta. E eu gosto disso. Eu na minha casa e você na tua. Apartados em nossas intimidades.
Por exemplo, eu acho os gatos graciosos e os cachorros lindos. Mas eu não tenho nem gato, nem cachorro. O que deveria, por si só, tornar óbvio para os vizinhos que eu não estou disposta a limpar cocô de animais...Isto não tem lógica? (Aliás, bichinho de estimação em apartamento, nem faz sentido pra mim, enfim...)
Então...Cabulosamente, minha janela, em baixo dela, virou sanitário de bichinhos de estimação que não são meus! Isto não deveria ser estranho? :/
Outra coisa, eu gosto de ouvir música. Mas não exijo que meus vizinhos compartilhem, nem do meu gosto musical, nem dos meus momentos de deleite musical...Por quê será que meus vizinhos crentes ficam tentando a gente com suas músicas num volume tão alto? Estão querendo converter os outros moradores do prédio, será isto? Fico até pensando que se alguém for falar com eles vão dizer que é obra do capeta...Até imagino os santos pedindo oração, na igreja, pelo vizinho- coração de pedra- que quer baixar a música divina. Ou seja, não há saída. Estou condenada ao inferno! :(
Campainha. Para que servem as campainhas? Meu vizinho, pré- adolescente, o filho mais velho da família que ouve música em volume alto, acha que campainha é para dar trote. Ele é filho daquela professora lá da escola brasileira...Aquela de um post mais antigo...
Este mesmo rapazinho e os outros brasileirinhos, que moram aqui, entre 7 ~10 anos de idade, além de tocar a campainha por esporte, também gostam de correr e gritar pelos corredores e escadaria do prédio. Meus pequenos vizinhos parecem, para ser suave, crinças alegres em parque de diversão a qualquer hora do dia ou da noite. E olha que temos uma praça enorme em frente de onde moramos. Basta atravessar a rua. Quem entende a preferência pelos corredores do prédio e estacionamento apertado?
Os pais destas criaturinhas não apenas gostam de ouvir música em alto som. São barulhentos. Andam barulhentos. Quando descem, ou sobem pelas escadas, a gente sabe quem é que está circulando. Quando chamam seus filhos, ou repreendem a sua prole (coisa rara) são altamente audíveis...Eles não falam com seus filhos, berram. Quando chegam no estacionamento, é outro alvoroço, enfim... Um tormento para qualquer sujeito civilizado. Ah, tem também as brigas familiares que a gente é obrigado a ouvir...Eu não sei de que selva veio esta gente...Mas impressiona muito!
Outro dia (vejam, só quantos exemplos!) cheguei da escola com o Vic e uma amiguinha dele.
Enquanto eu preparava o lanche para os dois, veio uma vizinha brasileira e me pediu um favor. Queria que eu ficasse com seu filhinho de 2 anos, pois havia surgido uma entrevista de emprego de última hora e ela não tinha com quem deixar a criança. Fiquei com o garotinho para ela, afinal a moça precisava arrumar um emprego...
Poucos minutos depois, chegou outra vizinha brasileira, com duas crianças maiores, já em idade escolar. Veio me pedir o mesmo favor...Confesso que fiquei incomodada, mas senti que não deveria dizer não. Ela precisava de um emprego também! E era uma excessão, afinal.
As crianças ficaram todas bem (sãs e salvas) e por pouco tempo, pois logo suas mães chegaram.
Mas eu fiquei muito incomodada mesmo é com uma coisa que o menino grande me disse, quando pedi pra ele descer da minha cama. Expliquei que, o meu quarto (que aliás estava com a porta fechada quando ele entrou) é local proibido para as crianças. Falei que eles teriam que comer à mesa e brincar na sala.
O garoto, com arzinho de malandro, me respondeu:
-"Nossa tia, que chatisse! Na minha casa a gente pode comer onde quiser! Depois a minha mãe só limpa."
(Que homem se tornará este menino se não houver intervenção?)
Aqui tem outras famílias também. Japonesas, Tailandesas, Sri Lankas, e não sei mais... Mas são estes brasileiros que tornam o prédio tão...Sem palavras...
E por estas coisas que penso, digo ou faço, tem gente (soube) que me acha blasè. Não é isto. Eu só quero viver em paz. Apartada em meu apartamento. Sem cheiro de cocô quando abro a janela. Sem ouvir música que não gosto nos momentos em que não quero, sem criança mal educada invadindo a minha privacidade. Sem tudo o que não me diz respeito e que não escolhi para mim. Difícil entender?
Li algo hoje, na internet, que o Mário Quintana escreveu e que me fez pensar nestes meus vizinhos: "A arte de viver é simplesmente a arte de conviver ... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil! "
Concordo com o Quintana. Difícil mesmo! Principalmente por aqui.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Coleção de gafes

Abaixo estão alguns constragimentos de principiantes que aconteceram com a gente por aqui.


1) Primeiro dia que fui almoçar no restaurante da Canon com Alex e outro colega dekasegi...

Fr -Hmm...adoro comida japonesa!
Cd -Que bom! Não vai sofrer então...
Fr- Vou experimentar o karê daqui, hoje!
Cd-karê , não é comida japonesa. É indiana!
Fr-Hãã... Bem, eu adoro miso-shiru!
Cd- Miso-shiru é muito bom, mesmo. Mas também não é comida japonesa. É chinesa...
Fr- Yaki-soba...
Cd-Chinesa.
Fr-Lamem...
Cd-Chinesa
Fr- Bom, eu gosto de comidas orientais... :)


2) Numa loja, pensando numa lembrancinha para enviar para o meu irmão...

Fr-Hmm...que caneca bonita! Uma bela lembrança japonesa!
Alex- Vamos levar várias...Podemos mandar para vários amigos diferentes.
Fr-Boa idéia! Tão bonitas e tão baratinhas, né?

...Mais tarde, em casa, do lado externo e em baixo das canecas (bem escondidinho) lemos um registro: Made in China. :)


3) Semana passada estávamos num Matsuri*...

Vic- Mamãe, mamãe...Compra uma máscara daquelas pra mim?
Fr- Hmmm...
Alex- Não! Pelamordedeus! Este pedaço de plástico que não vai durar uma semana custa 1ooo ienes!
Fr- Tudo bem! Vamos para uma loja de hyaku-en**! Tem uma aqui pertinho, com várias opções. Lá você pode escolher qual quiser!

... Na loja...

Vic- Quero aquela!
Fr-Certo. Dá aqui que eu já vou passando no caixa...

...No caixa...

Moça do Caixa- Desculpe. Blá, blá, blá e blá
Fr- Desculpe, eu não entendo japonês! Espere um pouco, por favor...

(Chamei o Alex pra traduzir)

E lá vem o Alex sem a máscara na mão...

Alex- Vamos embora...
Fr- Mas e a máscara do Vic?
Alex- As máscaras não estão à venda. São enfeites da loja...

Tóim!
(Mas encontramos uma máscara para o Vic, em outra loja e ele ficou feliz)

* Matsuri- festival de rua
** Loja de hyaku-en- equivale à loja de 1,99 no Brasil. Tem dessas lojas em todo canto por aqui!


Outro dia eu escrevo mais. É, as gafes não foram poucas... Vou deixar as outras para um próximo post. E quem nunca pagou um mico que atire a primeira banana! :)


quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Outono

Vejam, o sol se pondo às 16h...
O outono começou em outubro. Já estamos em novembro de 2007!
Tem estado um friozinho gostoso, daqueles em que a gente sente vontade de tomar miso-shiru*bem quentinho todas as noites. Hmmm...

*sopa de pasta de soja com o que mais vc quiser adicionar.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A incrível história do pastor Jaspion*

Aqui onde moramos** havia uma pequena igreja pentecostal (brasileira) que disputava fiéis com duas outras igrejas pentecostais da cidade vizinha. Umas de suas concorrentes é a poderosa IURD- aquela que você já viu na televisão, do Edir Macedo. A outra concorrente da igrejinha não é famosa como a IURD, mas também a incomoda. Talvez por ter mais adeptos e por roubar alguns de seus (in)fiéis...

Uma das estratégias de pescaria da pequena igreja foi a abertura de uma escola brasileira com boa estrutura física e uma dose considerável de falácia. Foram espertos. Já estenderam o negócio religioso para a área educacional, de forma que, os pais com filhos em idade escolar, membros da igreja, são "convidados" a privilegiarem a escola dos seus pastores. E os pais que não são da igreja, mas que têm os seus filhos na escola brasileira, são frequentemente convidados a fazerem "aquela visitinha"(estratégica, claro). Plano perfeito. Inclusive, no discurso dos pastores, a sua escola é uma obra missionária. Estes pastores comovem seus membros com discursos dito divinos e proféticos para angariar fundos para sua escola. (Só que a obra missonária deles cobra o mesmo preço de mensalidade que as escolas que não são para Jesus. Interessante, não?)

Bem, por estes tempos atrás a famigerada igrejinha devia estar em crise...Um dos pastores, o "chefe-mor" deles, recebeu uma profecia de Deus num culto. Deus o avisou que ele (o pastor) ficaria cego por uma espada e que o tempo estava próximo! (Ohhhhhhhhhh...)

Na tarde do dia seguinte, quando havia ninguém para testemunhar, eis que a profecia da noite anterior foi cumprida. Ao sair de seu carro para entrar em seu escritório, o pastor, com sua bíblia na mão, foi abordado por quatro (!) Yakuza! Um dos gangsters tentou atingir o pastor com sua espada (!), mas o homem de Deus, colocou a bíblia à frente e, neste instante, resplandesceu uma luz tão intensa que cegou a ambos!

O espadachin voltou para o carro ajudado pelos demais e fugiram todos atônitos com a cegueira do companheiro...

O pastor continuou cego por algumas horas naquele dia, mas teve sua visão restaurada e um novo grande testemunho pra levar aos seus crentes.

Se a história deste pastor gerou bons resultados finais para sua empresa, eu não sei. Mas sei que algumas pessoas saíram indignadas com o excesso de criatividade do pastor e me contaram o episódio.

A última notícia que eu tive da igrejinha decadente do "super-pastor" é que ela foi enfrentar suas concorrentes mais de perto, ali na cidade vizinha.

Que os pentecostais têm, ou dizem que têm, visões e experiências sobrenaturais já é sabido de muitos. Inclusive o Universo Acadêmico, já há algum tempo, tem se interessado seriamente pelo fenômeno pentecostal na américa latina, especialmente no Brasil. Mas, pelo amor de Deus, né? Diria, o meu pai, com sorrisinho irônico: "É o fim dos tempos!"

Imagine se os Yakuza souberem desta blasfêmia...


*Jaspion:
http://www.youtube.com/watch?v=R-vmzH4TPXQ

** Moramos em Ishige Machi, no estado de Ibaraki.

Sonzinho (para variar) sobre o assunto:

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Pais e filhos

Nosso Vic está agora em escola (pública) japonesa. Ele entrou no Yoochien* sem saber uma frase,que fosse, em Japonês. Sabia poucas palavras: banheiro, água, obrigado e, se eu não me engano, só.

Alex e eu ficamos muito preocupados com a sobrevivência dele ali no meio dos japinhas. Afinal, os últimos dias do Victor na escola brasileira foram muito conturbados. O último dia, em epecial, foi uma tragédia. Nos mostraram uma cadeirinha quebrada ao meio e nos informaram que o Victor tinha lançado o objeto contra a parede para acertar um coleguinha! Imaginem a nossa preocupação e angústia...A dona da escola, tecnicamente uma pedagoga, já havia acusado o pequeno réu de "muito mentiroso", no dia anterior, quando fizemos algumas denúncias sobre a sua então professora. ( Curiosamente uma das denúncias havia sido sobre agressão física e terrorismo psicológico).

Ficamos chocados com a novidade trazida pela dona da escola. Afinal, a acusação da pedagoga ia contra tudo o que víamos em nosso filho diariamente, dentro de casa e em outros contextos. Ia também contra os relatos e as observações feitos por funcionárias e ex-funcionárias da mesma escola. Tão pouco condizia com toda a educação que ele recebe dentro de casa, de forma direta ou indireta.

Mas, estávamos entre as acusações de uma "profissional experiente" e nosso filho de 4 anos.

Há muito tempo Alex e eu vínhamos refletindo sobre a qualidade da escola brasileira aqui no Japão. Várias vezes havíamos sido tentados a experimentar a escola japonesa. Os últimos dias haviam sido a gota d'água.

Alex e eu concordamos que era passada a hora de eu voltar a ficar em casa com o Vic e de tirarmos o garoto daquela escola. (Aliás, só fui para a fábrica para podermos quitar nossa dívida de passagem com a empreiteira que nos trouxe até o Japão. Não tivemos escolha neste detalhe.)
Enfim, voltei a ser apenas uma mamãe em casa e esperamos, durante dois meses, iniciar o ano letivo da escola japonesa, onde matriculamos o Vic. Durante este tempo fui conversando com ele, preparando o seu coraçãozinho para a nova mudança. Vic, durante 8 meses na escola brasileira, tinha desaprendido coisas que em casa havíamos ensinado. Então, este foi um tempo útil também para redirecioná-lo em certos bons hábitos.

A nova experiência tem sido ótima!

A escola japonesa influencia muito suas criaças a contemplarem e respeitarem a natureza. E não somente isto. Eles estimulam as crianças a terem contato com a terra e os animais. No yoochien as crianças estão diariamente cuidando de plantinhas que elas próprias plantam. Depois colhem os frutos de seu trabalho e trazem para suas casas para saborearem esta alegria com suas famílias.

Em dias especiais,ajudam no preparo da refeição usando, por exemplo, batatas que eles mesmos colheram nos arredores da escola. Acho estas experiências riquíssimas para os pequeninos.

Eles também têm um bichinho de estimação no jardim de infância. A escola do Vic, por ex, tem uma ave grande (não sei que nome tem, mas me parece da família dos galináceos, só que é grande...). A cada dia um aluninho diferente fica responsável por alimentar o mascote da escola. O rodízio é feito até que todas as crianças participem do cuidado com a alimentação do bichinho. E depois a lista recomeça... Assim, também, as crianças pequenas vão aprendendo a ter responsabilidades, respeito e cuidado com a natureza.

Outro trabalho que a escola japonesa faz com seus alunos é ensinar brincadeiras infantis tradicionais. Nesta semana, por exemplo, o Vic vai começar a aprender a pular corda. Depois que aprendem, eles têm um dia de competição, onde os filhos mostram aos pais que já sabem pular corda, por exemplo. Também tem o dia da corrida, do futebol, do bambolê etc...

Mais uma coisa boa! Fazem ginástica diariamente. Ah, e também têm iniciação musical. Começam desde cedo a aprender rítmica. (Com 3 anos, por ex, já usam castanholas nas apresentações da banda da escola). O Vic, que já tem 4 anos, está na turminha do pandeiro. Ano que vem terá outras opções.

Voltando ao início do post, onde dizia que Alex e eu estávamos preocupados com a sobrevivência do Vic na escola japonesa...Então, 8 meses se passaram desde que matriculamos nosso filho na nova escola. E o resultado tem sido muito bom! Victor tem aprendido dois novos idiomas sem correr o risco de se esquecer de sua lingua materna, uma vez que em casa conversamos muito com ele, sempre e somente em português. Está aprendendo japonês com muita rapidez e facilidade. E tem aulas de inglês também na escola, com professor especializado.

Ficou muito bem desde o seu primeiro dia ali. Claro que fizemos um trabalho de preparação psicológica aqui em casa, mas a forma como tem sido tratado na escola por sua professora e demais funcionários tem sido exemplar e isto conta muito para a adaptação de uma criança num novo ambiente.

Estamos constantemente em contato com a escola. Há sempre reuniões, festas e aulas abertas, onde podemos não apenas perguntar, mas também ver o desenvolvimento dele e sua interação saudável com os colegas. E o rapazinho foi promovido de réu a "muito inteligente, sociável e prestativo".

Recentemente matriculamos nosso garotão numa academia de judô, onde ele, mais uma vez e felizmente, foi super bem recebido pelos amiguinhos e professores. Tem sido ótima
esta experiência também! Ele está ampliando seu conhecimento cultural, crescendo e gastando muita energia!

E nós, os pais, vamos colecionando experiências e aprimorando a arte da sobrevivência neste mundão sem fim...Como dizia meu pai: "Na pior das hipóteses, tudo é experiência!"

Ps: Vic na foto está usando uniforme da escola. O chapéu amarelo faz parte.

* yoochien significa jardim de infância




sábado, 3 de novembro de 2007


Por quê os nossos japoneses são "melhores" que os deles?
"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros." (Clarice Lispector)
- "Enquanto você está dormindo, tem 15.000 japoneses estudando."

Que vestibulando já nao ouviu esta afirmativa terrorista?

De fato, é perceptível o número (avantajado?) de japas na universidades públicas brasileiras. Geralmente eles estão alocados nos cursos mais concorridos, não é? Engenharias e Ciências médicas em geral (Sonhos de consumo da massa vestibulanda)

Pois é. Fatos assim nos levam a imaginar que japonês (descendente, eu quero dizer) é - por definição - um sujeito estudioso, aplicado etc...

Descobri o motivo deste nosso pré-conceito bem fundamentado. Descobri não, criei uma teoria a respeito. Melhor: levantei uma hipótese... (gostou, hein?) Os outros* mestiços estão todos aqui!

Tem uma peça mais rara que a outra... Quem quiser,pode conferir abaixo, alguns diálogos reais que tive com colegas (japas) de fábrica ...

* outros: aquele grupo que nega a imagem do "japa-obssessivo" :) Ou, se preferir, os descentendes menos favorecidos :/

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Fr -Oi, x! Tude bem?
X -Minina! Eu num tô andando bem. Tô ismagrecendu demais da conta!
Fr - Nossa!

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X- Vc parece estudada...
Fr-Sério? Pq?
X- O jeitinho q ce fala é diferente. Parece uma professorinha falando...
Fr- Hmm... (com sorriso amarelo)

#

O terrível dia em que vazou que eu era "formada" em Filosofia...
(Detalhe importante: esta informação entrou na fábrica via dona da "escolinha" -brasileira- onde meu filho, lamentavelmente, ficou matriculado por 8 meses.)
X-Minina! Então quer dizer que no Brasil ce era formada professora?
Fr-Quem disse?
X-A pastora lá, dona da escola...
Fr- Não é bem assim, pq, na verdade...
X-Tá vendo só? E não adiantou nada, né? Estudou tanto, coitada...E tá aqui cum nóis do mesmo jeito...

#

Y- Então...Vc estudou o que mesmo?
Fr-Filosofia.
Y-Fisolofia?Xiiiiiii...Fisolofia é facinho...Passei direto! A gente só entregamos um trabalhinho em grupo lá e boa...

#
Z- Ow, é verdade que vc estudou filosofia, lá?
Fr- É. Mas eu só fiz a graduacao.
Z-Nossa, legal cara! Eu curto muito esse lance assim, tipo papo cabeça, saca?
Fr-Hm...
Z- Eu curto muito Paulo Coelho, cara! Vc tb curte?

#
W- Então, quer dizer q temos aqui uma filósofa...
Fr-Não! Não é bem assim...Veja...
W-Como não é isto? Fez filosofia, é filósofa! E, já q vc é inteligente, explica isto aqui pra ela, que ela não tá me entendendo...

#

T- Meu, já que vc estudou filosofia, me diz:
Fr- Hm?
T- Deus existe?
Fr-Quem sabe, né?
T-A...Vc é ateu! Filósofo é tudo doidão! Tudo ateu!

#

P- Filosofia, né?
Fr- Isto.
P-Legal, legal...Mas assim...Tipo...Pra que é q serve mesmo esta matéria?

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Choque Cultural

No Brasil, antes de migrar, senti medo. Pensei nas dificuldades de adaptação pelas quais passaríamos, tive medo daquele japonês frio e calculista que existe no imaginário brasileiro. Pensei que não fosse capaz de suportar um trabalho manual e monótono com um japonês gritando ao meu lado: "Mais rápido, mais rápido!", ou torturas semelhantes. Apesar do medo, cheguei até esta "Ilha" tão distante...
Meu primeiro trabalho foi na Canon. Minha primeira quebra de pré-conceito cultural, sobre os japoneses, foi alí também. Entre risos, sorrisos, e simpatias, entre paciência e persistência, meus superiores (japoneses) foram me ensinando tudo. Humanidade e técnica foi o que, basicamente, eles usaram no treinamento. Depois do treinamento, os chefes estavam sempre acompanhando o trabalho de perto e sempre com boa educação.
O terrível choque cultural que tive aqui-pasmem- foi com meus conterraneos. Muitos ( na verdade, a maioria de meus veteranos dekasegis) me deixaram espantada com tosquices múltiplas. Os exemplos são tantos e tão variados q seria exaustiva a lista. Mas para que se tenha uma idéia, digo que a lista varia de questões higiênicas a ocorrências policiais por agressões físicas, roubos de carros etc. Pasmem, continuem pasmando...Eu aida nao consegui parar, depois de um ano e meio aqui.
O último exemplo absurdo que presenciei foi numa fábrica de sanduiches, onde eu fazia"arubaito", ou "bico", como dizem os paulistas. Eu estava aprendendo um serviço novo. Aliás, eu era nova ali.Uma brasileira jovem, bonita, com 10 anos de experiência naquela fábrica, estava trabalhando ao meu lado. (É, isto mesmo. Dez anos preparando sanduiches!) De repente ela gritou:
-"Se você não for trabalhar bem longe de mim, eu arrebento a tua cara!Eu juro! Eu odeio a tua lerdeza!"
Ainda nao descobri o que foi mais grotesco. Se foi a atitude da bela mocinha deseducada ou a cumplicidade das outras veteranas, que me disseram coisas como:
-"Ah, vai se acostumando que nesta linha tem muita gente stressada!"
Então, mais uma vez eu pensei sobre o que eu vim fazer aqui, neste "mundo" tão distante...