domingo, 10 de outubro de 2010

Eros, segundo Drummond




Não se mate
1934 - BREJO DAS ALMAS


Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguem sabe nem saberá.

Foto: "Patinho suicida" por Alexsandro Issao Sunaga- nov/2001

Poema copiado de:
http://carlosdrummonddeandrade.com.br/poemas.php?poema=18





2 comentários:

Henderson disse...

dorei a foto e o poema

brigadu

Nathália Del Roy disse...

A Dory, de Procurando Nemo, diria pro patinho suicida: "continue a nadar, continue a nadar..."

:)
bjos