Li na Falha de São Paulo que Aécio Neves e Geraldo Alckmin estarão juntos na paulista em manifestação contra Dilma. Em seguida ouvi um comentário ácido-engraçado, prevendo que o primeiro levará 30% de pó e o outro 50% da merenda do estado de São Paulo. Superfaturando e manifestando...Má oêêê!
À parte esses safados e seus seguidores, abaixo partilho um texto de Vladimir Safatle, porque coerência e bom senso caem sempre muito bem...
"Um dos principais
predicados da justiça é a simetria. Justo é tratar de maneira simétrica,
aplicar a mesma medida a todos aqueles que serão julgados.
Na ausência de simetria, a aplicação da justiça se transforma em
mera expressão de jogo de poder, pois a justiça é injusta quando trata de
maneira justa apenas uma parte dos envolvidos.
Vale lembrar desses princípios elementares de filosofia moral
para compreender a indignação que tomou parte da população brasileira com os
últimos desdobramentos da Operação Lava Jato.
É inegável a importância da operação no desvelamento do esquema
incestuoso de relação entre empresariado e governo construído como alicerce da
Nova República.
Ela mostra claramente o que é o capitalismo brasileiro: um
oligopólio composto por megaempresas que não operam a partir da lógica da
concorrência, mas da corrupção contínua e generalizada do Estado como condição
normal de funcionamento.
Desde o seu início, a Lava Jato deixou claro como estávamos
falando de um funcionamento que envolvia toda (deixe-me repetir, toda) a classe
política brasileira. O assalto à Petrobras não era traço distintivo deste
governo, mas já vinha desde o governo FHC.
Os beneficiários de doações ilegais das empreiteiras não eram
apenas membros do governo. Aécio Neves estava lá em mais de uma delação, seu
sucessor no governo de Minas, Antonio Anastasia, foi imediatamente citado logo
na primeira leva da operação.
Repetia-se assim um roteiro que vimos no caso do mensalão,
quando o governo Lula havia se beneficiado de um esquema de corrupção em
operação no governo FHC e liderado pelo ex-presidente de seu partido, o sr.
Eduardo Azeredo. Lembrar disto não é retirar a responsabilidade dos últimos
governos federais.
Não há solidariedade possível com governos, como os dois
últimos, que usaram sistematicamente da corrupção do Estado e cujos maiores
operadores mostram marcas de enriquecimento ilícito.
Mas não haverá mundo pior do que aquele no qual alguns são
punidos pela corrupção enquanto outros podem corromper impunemente.
Até agora, é para este mundo que a Operação Lava Jato está a
apontar. É isso que dá, para muitos, a impressão de que tudo se passa como se a
operação fosse peça de uma briga de gângsteres para saber quem vai conduzir os
negócios de sempre.
De fato, o tucanato é uma espécie de Houdini da política
brasileira: consegue sempre escapar ileso de todo caso de corrupção e da
culpabilização de suas ações escandalosas.
José Dirceu está hoje na cadeia devido ao mensalão; o que é
justo. Mas pergunte-se onde está Eduardo Azeredo. Solto ou na cadeia?
As contas da campanha de Dilma estão sendo julgadas, o que é
justo. E as contas de Aécio?
Lula está sendo investigado por sinais de relações incestuosas
com megaempreiteiras, o que é justo. Contrariamente ao que dizem alguns, é
assim que se trata um ex-presidente.
Em sua defesa na semana passada, Lula não escondeu o apreço que
tem por tais empreiteiras corruptas. Ele escolheu seu caminho.
Mas e FHC, como ele é tratado? Há semanas atrás, o país
descobriu estarrecido que, enquanto presidente, Fernando Henrique Cardoso
mantinha relações de profunda dependência com uma megaempresa por ela ter dado
um jeito de sumir com sua amante, pagando-lhe salários fictícios e livrando-o
assim de um possível escândalo que poderia abalar sua carreira. Isso não se
trata de “problema pessoal” nem é fato ligado à sua vida privada.
Em qualquer país do mundo, algo dessa natureza seria um
escândalo intolerável por mostrar o grau de fragilização do exercício da
presidência e de submissão que alguns políticos estão dispostos a produzir.
O fato mostraria o tipo de relação espúria e incestuosa que
setores da imprensa têm com o poder. Mas no Brasil, sendo o senhor em questão
um tucano, o caso inacreditavelmente não teve maiores consequências.
Assimetrias como essas são a razão primeira do grau explosivo de
tensão a que chegamos atualmente no Brasil.
Tivesse a Justiça operado de maneira justa com todos e tivessem
setores da imprensa atuado de maneira implacável com todos, teríamos a
segurança de não haver interesses inconfessáveis por trás de ações
espetaculares como as vistas semana passada.
Mas a assimetria produz uma insegurança profunda a respeito das
intenções em jogo, o que é um convite à desagregação completa dos pactos no
interior da combalida democracia brasileira."
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