quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Uma prece diferente


É comum ouvirmos a oração: "Livrai-nos do mal". Lembro de uma oração bem parecida com esta que eu fiz quando tinha seis anos...Hoje, se eu tivesse fé, gostaria de fazer uma prece diferente, mais parecida com esta de Rabindranath Tagore:

"Não me deixe rezar por proteção contra os perigos, mas pelo destemor em enfrentá-los.
 Não me deixe implorar pelo alívio da dor, mas pela coragem de vencê-la.
 Não me deixe procurar aliados na batalha da vida, mas a minha própria força.
 Não me deixe suplicar com temor aflito para ser salvo, mas esperar com paciência para merecer liberdade.
 Não me permita ser covarde, sentindo sua clemência apenas no meu êxito, mas me deixe sentir a força de sua mão quando eu cair."

Nietzsche, que se tornou ateu (não sem sofrimento), não faria esta oração. Porque quem roga, geralmente roga a alguém e ele pensava que estamos sós no mundo, à mercê de nós mesmos...

Apesar da ruptura que o Filósofo teve com o cristianismo, penso que algo em sua filosofia pode contribuir  mesmo para aqueles que creem. Os crentes talvez possam amadurecer em sua fé* se assumirem  viver a vida como ela é ao invés de  esperarem por milagres que transformem as dificuldades diárias em calmaria constante. Ao invés de esperarem pela realização de suas expectativas de um mundo em "cor de rosa".

O mundo, ou a vida, é multicolorida e o cinza faz parte do conjunto. Não há pílula mágica que transforme  nossas fantasias em realidade. Nem se pode apostar as fichas na piedade e misericórdia dos outros para conseguirmos sobreviver aos males cotidianos. Isso tudo é para os fracos, diria Nietzsche, e ninguém quer ser fraco...Para ficar forte, ensina-nos o filósofo, é preciso continuar tentando, carregando a própria pedra (como Sísifo), sair da casquinha, dar a cara aos tapas, sangrar e deixar a ferida cicatrizar, ou não e aprender a conviver com ela ardendo aberta, sem paralisar de dor... 

Viver não é tarefa fácil. Principalmente quando se sai do raso. E é nessa aceitação da vida como ela é e em seu enfrentamento que a  filosofia de Nietzsche nos surpreende. Segundo o filósofo, o que não nos destrói nos fortalece. Isso faz sentido para mim. Por isso digo que, se eu tivesse fé, gostaria de ter também a maturidade necessária para se fazer uma oração como esta de  Rabindranath Tagore. É um desafio aos que acham que creem...

* Perdoem-me os Nietzschianos  pela "heresia" ;)








Um comentário:

Jânio Lima disse...

Nietzsche queira ou não e pensam o contrário é sim um educador para todos e para ninguém, é um filosofia que ensina que um criador desmerece o ser humano e na verdade desmerece, pq ele exige toda atenção e amor para si, é um deus egoísta sem dúvida, por isso precisamos sair desse caminho e perceber o quano somos capazes por nós mesmos, a história prova tão magistralmente isso, o homem chegou até aqui lutando, guerreando, derrubando muros sozinhos na hora em que mais precisou nenhum deus apareceu para dar uma maozinha. O ser humano precisa entender que é absolutamente capaz por ele mesmo. Abraços