sábado, 22 de dezembro de 2007

Tudo passa. Estamos bem.

Talvez alguns amigos ainda não saibam, mas o Alex está de repouso em casa por estes dias. Teve febre de 39 graus na noite de segunda para terça e muita dor ao respirar. Fomos ao médico logo pela manhã e, depois de alguns exames veio o dianóstico: pneumonia. Foi um susto muito grande. Uma correria. E por um dia inteiro, desespero ( de minha parte) e sofrimento (da parte do Alex). O primeiro médico achou que deverímos interná-lo e encaminhou-o a um hospital universitário, numa outra cidade. Depois de mais exames no hospital sugerido pelo médico da clínica que fomos pela manhã, a médica responsável confirmou o diagnóstico. Porém, liberou o Alex para repousar em casa. Serão, ao todo, sete dias de repouso em casa, medicação e alguns cuidados especiais.Na próxima quarta feira retornaremos ao hospital e saberemos o resultado do tratamento e o que mais deverá ser feito, ou não. Agora está tudo caminhando muito bem.
O Vic também está gripado, com a gargantinha irritada, mas sem febre. Levei o pequeno ao médico, um dia depois de acomodar bem o Alex em casa. Fiquei preocupada que tivesse mais um moribundo em casa. Mas não é o caso, Vic está apenas gripado. Aliás está cheio de energia, apesar da gripe. Está sendo medicado e, diferente do pai, pode seguir com suas atividades normalmente.
Agora, passado o susto, as dores fortes do Alex e sua febre alta, já estamos num clima bem mais sossegado e até alegre em casa.Estamos, inclusive, saboreando a oportunidade rara de ficarmos bastante tempo juntos aqui no Japão. Ontem à tarde, enquanto o Vic estava na escola, Alex e eu até aproveitamos para assistir um documentário que gostamos muito.
Para não deixar alguém curioso (eu ficaria) o nome do documentário é: Oscar Niemeyer- a vida é um sopro. Senti que ele é uma vida bonita. Aliás, achei muito bonita a simplicidade e a leveza do arquiteto. Interessante ouví-lo falar sobre as obras públicas que criou, enquanto lembrava-se, ou lembrava-nos, que quis fazer algo bonito para os pobres também poderem admirar o belo. Pessoas assim, sempre me fascinam. Pessoas que se importam em fazer diferença na/para a socidade. Que se preocupam em melhorar a vida dos desfavorecidos. Como ele mesmo destaca, quem, hoje, no Brasil, pode usufruir do serviço de um arquiteto?
A gente vive numa correria tão miserável. E nesta correria por melhorar a nossa própria qualidade de vida, a nossa própria imagem, enfim, o nosso próprio umbigo, acabamos por não ver o tempo passar. Infelizmente, num piscar de olhos tudo simplesmente pode acabar. Espantoso, tudo pode acabar num segundo...


Elogio da sombra
Jorge Luis Borges
A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.

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