quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Apartamento não é para apartar?


Estes dias me dei conta de como os meus vizinhos tem importância na minha (qualidade de) vida.
Meus amigos mais próximos sabem que não sou lá muito sociável. Nem tenho o hábito de vizinhar e isto já restringe, quem tem este hábito, de frequentar minha casa também sem bons motivos.(Bem, esta regra não vale para os íntimos e eles sabem disto.)
Infelizmente aqui no Japão, encontrei brasileiros que agem no extremo oposto da ampla possibilidade de política da boa vizinhança. Alguns de meus vizinhos brasileiros perderam (ou nunca souberam) a noção de limite.
Estive pensando...Não sei qual a origem da palavra apartamento, mas me soa como algo que aparta. E eu gosto disso. Eu na minha casa e você na tua. Apartados em nossas intimidades.
Por exemplo, eu acho os gatos graciosos e os cachorros lindos. Mas eu não tenho nem gato, nem cachorro. O que deveria, por si só, tornar óbvio para os vizinhos que eu não estou disposta a limpar cocô de animais...Isto não tem lógica? (Aliás, bichinho de estimação em apartamento, nem faz sentido pra mim, enfim...)
Então...Cabulosamente, minha janela, em baixo dela, virou sanitário de bichinhos de estimação que não são meus! Isto não deveria ser estranho? :/
Outra coisa, eu gosto de ouvir música. Mas não exijo que meus vizinhos compartilhem, nem do meu gosto musical, nem dos meus momentos de deleite musical...Por quê será que meus vizinhos crentes ficam tentando a gente com suas músicas num volume tão alto? Estão querendo converter os outros moradores do prédio, será isto? Fico até pensando que se alguém for falar com eles vão dizer que é obra do capeta...Até imagino os santos pedindo oração, na igreja, pelo vizinho- coração de pedra- que quer baixar a música divina. Ou seja, não há saída. Estou condenada ao inferno! :(
Campainha. Para que servem as campainhas? Meu vizinho, pré- adolescente, o filho mais velho da família que ouve música em volume alto, acha que campainha é para dar trote. Ele é filho daquela professora lá da escola brasileira...Aquela de um post mais antigo...
Este mesmo rapazinho e os outros brasileirinhos, que moram aqui, entre 7 ~10 anos de idade, além de tocar a campainha por esporte, também gostam de correr e gritar pelos corredores e escadaria do prédio. Meus pequenos vizinhos parecem, para ser suave, crinças alegres em parque de diversão a qualquer hora do dia ou da noite. E olha que temos uma praça enorme em frente de onde moramos. Basta atravessar a rua. Quem entende a preferência pelos corredores do prédio e estacionamento apertado?
Os pais destas criaturinhas não apenas gostam de ouvir música em alto som. São barulhentos. Andam barulhentos. Quando descem, ou sobem pelas escadas, a gente sabe quem é que está circulando. Quando chamam seus filhos, ou repreendem a sua prole (coisa rara) são altamente audíveis...Eles não falam com seus filhos, berram. Quando chegam no estacionamento, é outro alvoroço, enfim... Um tormento para qualquer sujeito civilizado. Ah, tem também as brigas familiares que a gente é obrigado a ouvir...Eu não sei de que selva veio esta gente...Mas impressiona muito!
Outro dia (vejam, só quantos exemplos!) cheguei da escola com o Vic e uma amiguinha dele.
Enquanto eu preparava o lanche para os dois, veio uma vizinha brasileira e me pediu um favor. Queria que eu ficasse com seu filhinho de 2 anos, pois havia surgido uma entrevista de emprego de última hora e ela não tinha com quem deixar a criança. Fiquei com o garotinho para ela, afinal a moça precisava arrumar um emprego...
Poucos minutos depois, chegou outra vizinha brasileira, com duas crianças maiores, já em idade escolar. Veio me pedir o mesmo favor...Confesso que fiquei incomodada, mas senti que não deveria dizer não. Ela precisava de um emprego também! E era uma excessão, afinal.
As crianças ficaram todas bem (sãs e salvas) e por pouco tempo, pois logo suas mães chegaram.
Mas eu fiquei muito incomodada mesmo é com uma coisa que o menino grande me disse, quando pedi pra ele descer da minha cama. Expliquei que, o meu quarto (que aliás estava com a porta fechada quando ele entrou) é local proibido para as crianças. Falei que eles teriam que comer à mesa e brincar na sala.
O garoto, com arzinho de malandro, me respondeu:
-"Nossa tia, que chatisse! Na minha casa a gente pode comer onde quiser! Depois a minha mãe só limpa."
(Que homem se tornará este menino se não houver intervenção?)
Aqui tem outras famílias também. Japonesas, Tailandesas, Sri Lankas, e não sei mais... Mas são estes brasileiros que tornam o prédio tão...Sem palavras...
E por estas coisas que penso, digo ou faço, tem gente (soube) que me acha blasè. Não é isto. Eu só quero viver em paz. Apartada em meu apartamento. Sem cheiro de cocô quando abro a janela. Sem ouvir música que não gosto nos momentos em que não quero, sem criança mal educada invadindo a minha privacidade. Sem tudo o que não me diz respeito e que não escolhi para mim. Difícil entender?
Li algo hoje, na internet, que o Mário Quintana escreveu e que me fez pensar nestes meus vizinhos: "A arte de viver é simplesmente a arte de conviver ... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil! "
Concordo com o Quintana. Difícil mesmo! Principalmente por aqui.

3 comentários:

Deborah Vogelsanger Guimarães disse...

Falando nisso, desse lado do mundo...

http://videos.uol.com.br/video/confissaes-insanas-betina-botox-040264C4C12326

Anônimo disse...

Ahhhh... Eu acho que chego a ser meio paranóica com a minha casa. Meu lar é o lugar que eu mais prezo no mundo, e minha tranquilidade também...
Sei exatamente como você se sente.
Antes minha vizinha crente também era minha cunhada... Ainda bem que me mudei e ela não fala mais comigo porque vendi minha alma ao diabo.^^
Beijinhos.

Unknown disse...

hahahaha... a cada texto q leio eh cada vez mais impressionante!!!
tu poderia escrever um livro dps q retornar ao Brasil, com certeza seria um sucesso de vendas!!!!!